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'Perspectiva para o real é de depreciação no próximo ano'

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23/10/2013 - 07:41

O adiamento do início da redução dos estímulos monetários pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) tirou pressão de moedas emergentes, como o real, e "abriu uma janela de oportunidade" para que o Banco Central brasileiro, com o aperto da política monetária, tente "ancorar as expectativas de inflação".

A opinião é de Andres Garcia-Amaya, vice-presidente e estrategista global de fundos do J.P. Morgan, que veio ao Brasil para encontros com grandes investidores locais. "O BC brasileiro está indo na direção correta [ao apertar a política monetária]. Não vai ser suficiente para pôr a inflação em trajetória sustentada de queda mais forte, porque a inflação de serviços ainda é muito forte. A inflação vai ficar perto de 6% no próximo ano", diz Garcia-Amaya, cuja missão é fornecer análises para gestores de fundos e consultores financeiros da instituição ao redor do mundo.

Para o estrategista, a inflação ainda elevada e uma provável depreciação do real em 2014, desencadeada pela diminuição dos estímulos monetários nos Estados Unidos, fazem com que os títulos públicos brasileiros não sejam uma alternativa interessante neste momento.

Não se pode subestimar, diz Garcia-Amaya, a reação do mercado quando de fato o Fed começar a diminuir as compras mensais de bônus, hoje em US$ 85 bilhões. "A consequência vai ser um dólar mais forte no mundo, tendo do outro lado moedas emergentes mais fracas. Isso vai afetar também a renda fixa brasileira", afirma o estrategista.

Veja os principais trechos da entrevista.

Valor: Houve entrada de mais de US$ 20 bilhões para renda fixa brasileira este ano, com forte fluxo após o governo zerar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para aplicações de estrangeiros em junho. O dólar perdeu força e o Brasil está subindo os juros. Os papéis públicos brasileiros são atraentes para o investidor global?

Andres Garcia-Amaya: A remoção do IOF foi um sinal positivo para os investidores, mostrou que eles são bem-vindos. Isso combinado com o fato de as taxas de juros estarem muito baixas em outros países, como Estados Unidos, Japão, Alemanha, em comparação com as taxas brasileiras, estimulou essa entrada. Essa busca de investidores por "yield" [retorno] é natural. Não sei se a política monetária e fiscal praticada no Brasil será suficiente para manter a atratividade dos títulos. Quando pensamos em alocação global de ativos, estamos muito cautelosos no mundo inteiro. O Federal Reserve vai iniciar o "tapering" [redução do programa mensal de US$ 85 bilhões em compras de títulos] e isso vai afetar os países emergentes com déficits em transações correntes, como é o caso do Brasil. A inflação no Brasil ainda preocupa. Isso faz com que nos preços atuais os papéis brasileiros pareçam caros.

Valor: Após o impasse orçamentário nos Estados Unidos, analistas passaram a trabalhar com a redução nos estímulos apenas no ano que vem. Quando o Fed deve começar a reduzir as compras de bônus?

Garcia-Amaya: Preferíamos que o Fed já tivesse começado a diminuir as suas compras. A paralisação [parcial dos serviços públicos americanos] durou quase três semanas e isso prejudicou a economia. O "tapering" não vai ser feito ainda este ano. Acredito que possa ser em fevereiro ou março. Não se pode subestimar as reações do mercado ao início do "tapering". Os mercados tendem a reagir de forma exacerbada. A consequência vai ser um dólar mais forte no mundo, tendo do outro lado moedas emergentes mais fracas. Isso vai afetar também a renda fixa brasileira. O real se recuperou recentemente, mas a perspectiva é de depreciação no ano que vem, e isso afeta a inflação.

Valor: O Banco Central brasileiro deu sinais de que vai continuar a apertar a política monetária para tentar segurar a escalada da inflação. Isso não será suficiente para conter a alta de preços?

Garcia-Amaya: O comunicado da decisão e a ata mostram que o aperto monetário continua. Mas a ata não trouxe nenhum sinal claro de até onde o Banco Central pretende elevar a taxa de juros. Pode ser algo entre 10% e 11%. Eu acredito que seja 10,50%. Não vai ser suficiente para pôr a inflação em trajetória sustentada de queda mais forte, porque a inflação de serviços é muito resistente e não vai cair porque a renda continua forte. A inflação vai ficar perto de 6% no próximo ano. Mas o adiamento do "tapering" abriu uma janela de oportunidade para o banco central brasileiro porque trouxe uma apreciação do real. O BC vai ter alguns meses para tentar ancorar as expectativas de inflação, acho que é tempo suficiente. O BC brasileiro está indo na direção correta e não vai deixar as expectativas piorarem e a inflação ir além de 6%.

Valor: As agências de classificação de risco Standard & Poor's e Moody's rebaixaram a perspectiva do rating brasileiro. A condução da política fiscal brasileira preocupa os investidores?

Garcia-Amaya: Apesar do rebaixamento da perspectiva da nota brasileira e dos problemas fiscais, os investidores não desistiram do Brasil. Acredito que as pessoas têm esperança de que o Brasil vai ajustar a política fiscal. Com a eleição no ano que vem, os investidores adiaram grandes decisões. As pesquisas mostram que a Dilma [Rousseff, presidente da República] ainda é a favorita. Mas pode ser uma batalha apertada. Independentemente de quem seja o favorito, o fato é que as eleições criam incerteza. Eu acho que o potencial de crescimento do Brasil é de algo entre 3% e 4%. A dificuldade para crescer mais hoje é a produção industrial. As vendas no varejo mostram que o consumo é muito resiliente. O setor industrial continua não sendo competitivo globalmente, isso segura a economia. No próximo ano, o Brasil deve crescer entre 2% e 2,5%, provavelmente. Vai ser um ano difícil para os emergentes e para o Brasil. Hoje, os bônus brasileiros parecem caros.

Valor: Quais as melhores oportunidades de investimento?

Garcia-Amaya: Estamos cautelosos com a renda fixa, mas vemos grandes oportunidade em ações americanas e europeias. Ajustadas pelos riscos, as ações europeias estão com preços atraentes, os lucros mostram recuperação lenta mas constante. Ações americanas também são interessantes quando se pensa em valor relativo. É melhor ter ações do que bônus ou dinheiro em caixa. Em um ambiente de muita incerteza, o importante para o investidor de longo prazo é ter uma diversificação global.

Fonte: Valor


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