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Perda do grau de investimento já era esperada, dizem economistas

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10/09/2015 - 08:44

Nota do Brasil foi rebaixada de 'BBB-' para 'BB+', com perspectiva negativa.
Agência é a 1ª entre as principais a tirar do país o selo de bom pagador.

O Brasil perdeu o grau de investimento na classificação de crédito da Standard and Poor's (S&P), informou a agência de classificação de risco nesta quarta-feira (9). A nota do país foi rebaixada de "BBB-" para "BB+", com perspectiva negativa. O rebaixamento do rating do Brasil para a categoria "especulativa" acontece menos de 50 dias após a agência ter mudado a perspectiva para negativa.

O grau de investimento é uma espécie de "selo de bom pagador" de um país para investidores internacionais. No mercado financeiro, a nota de um país funciona como um "certificado de segurança" que as agências de classificação dão a países que elas consideram com baixo risco de calotes a investidores.

Especialistas ouvidos pelo G1 apontam que a perda do grau de investimento pelo Brasil já era esperada, e alertam para a possibilidade de o país perder o selo também pelas outras duas agências internacionais, a Moody's e a Fitch.

Veja abaixo a repercussão entre os analistas:

Rafael Paschoarelli, professor de Finanças no Departamento de Administração da FEA-USP
“É um sinal inequívoco de que o governo não sabe o que está fazendo e está escondendo suas ações dos especialistas. Ninguém sabe para onde estamos indo. E o discurso de Poliana, de que tudo vai melhorar, não convence as agências. É um sinal do fracasso da estratégia da nova matriz econômica, apregoada no primeiro mandato da Dilma.

Mas o mais grave é que a gente não sabe para onde vai. Levy fica? Serão feitos cortes? Os empréstimos subsidiados para as montadoras, que foram um erro, serão mantidos? Programas sociais que não temos mais como manter serão cortados também?

Esse rebaixamento em muito antecipou o que os mais pessimistas previam. Mesmo eles achavam que isso só aconteceria no final do ano, na virada do ano. Algo que o brasileiro já sentia na pele agora é atestado por especialistas, agências que dão notas para todos os países do mundo.

E as pessoas mais simples, aquelas que ganham um, dois salários mínimos, serão diretamente afetadas. Isso não é uma coisa restrita a investidores e bolsas. As empresas vão captar dinheiro lá fora mas isso vai custar mais caro, então elas vão reduzir investimentos e contratações.

Conquistas como a queda da inflação e graus de investimentos estão sendo perdidos.
Política econômica não é para amadores. E, como diz Armínio Fraga, um general sozinho, com sua espada, não faz uma guerra – e esse general, no caso, é o Levy.”

Roberto Luis Troster, coordenador do curso de bancos da Fipe
“É um dia triste. Isso era esperado, era mais uma questão de ‘quando’ do que de se. As coisas ficam mais difíceis, há uma perda de credibilidade. Ou o Brasil reage rapidamente, e ele tem condições para isso, ou teremos uma expectativa de crescimento cada vez menor. O mundo todo está numa velocidade e nós estamos na metade dela.

Isso vinha sendo alertado, o governo poderia ter feito algumas coisas antes. Mas também pode não se conformar e fazer agora, é preciso virar o jogo. É preciso fazer muitos ajustes, e também cortar privilégios. No Brasil, por exemplo, a gente tem aposentadorias precoces no setor público e uma burocracia terrível, a guerra fiscal é um grande exemplo. Cada empresa precisa ter um batalhão de contadores só para entender a legislação fiscal de cada estado. 

Ou a gente se convence de que tem que crescer ou vai continuar indo só para os lados. A inflação vai ficar mais forte, os juros demoram mais para cair. Fica pior.”

Roberto Vertamatti, diretor de economia da ANEFAC
“Isso acontece em função da situação brasileira. O governo tem dificuldade de aumentar renda, houve o desastrado encaminhamento do orçamento negativo. Nós estamos muito inseguros em termos de contas públicas.

Ainda estamos com grau de investimento, mas a perspectiva não é das melhores, a não ser que o governo mostre sinais claros de mudança. Isso é um sinal de alerta para o mercado, mas diria que é mais uma advertência para o governo. É preciso sinalizar claramente os ajustes.

O governo está sem liderança, em meio a crises política e econômica, essas duas situações estão ligadas. Não se vê uma boa perspectiva, há dificuldade de gerenciamento no governo.
Independente da perda do grau de investimento, temos a tendência do recrudescimento do desemprego, isso deve piorar até o final do ano, e ela não está ligada a essa perda do grau. Mas, se não mostrarmos sinais de ajuste, esse período pode se estender.

Essa perda é um sinal ruim, mas ainda não estamos com classificação negativa. Se o grau se reduzisse ainda mais, aí sim poderíamos ter um período ainda mais longo de economia negativa, com o comprometimento de 2016 e reflexos até em 2017. Mas essa perda de hoje ainda não representa isso. Acho que é realmente uma advertência ao governo.”

Sidnei Moura Nehme, especialista em câmbio, comércio exterior e finanças internacionais
“Essa perda é um fato relevante e era iminente. Alguns achavam que isso não aconteceria antes da entrega do orçamento, pelo menos, mas atravessamos um quadro crítico e as agências se anteciparam. E a Standard and Poor’s em geral é a primeira a se manifestar mesmo.

Ainda estamos em grau positivo, mas tecnicamente é como se estivéssemos em um negativo. Não acredito que os principais fundos de recursos estrangeiros vão ficar esperando a situação piorar. Muitos só podem investir em países com graus positivos, e o risco é de que eles se antecipem e deixem de investir no Brasil antes que a situação fique ainda pior.

Essa fragilidade pode gerar movimentos especulativos sobre o real, e esse é um grande perigo.
A perspectiva é muito ruim. O quanto ela é ruim? Vamos ter que verificar com os investidores e quais serão suas reações.

A situação fiscal é muito ruim e existe o risco de uma curva de Laffer, na qual, quanto mais o governo aumenta a tributação, menos ele arrecada, porque esses aumentos têm um impacto grande demais na economia.

Acredito que o governo vai evitar ao máximo vender ao mercado e pode recorrer aos bancos. O governo tem poucos instrumentos de defesa. Se ele usar suas reservas pode acabar alimentando ainda mais a especulação. Ele está encurralado.”

Fonte: G1

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