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Banco Pan é novo fiasco de André Esteves, do BTG

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27/01/2014 - 09:24

Banco que pertenceu a Silvio Santos e foi adquirido pelo dono do BTG Pactual enfrenta fuga de executivos e resultados decepcionantes

247 - A operação do banco Pan, antigo Panamericano, que pertenceu a Silvio Santos e foi adqurido pelo BTG Pactual, está longe de entregar os resultados prometidos. É o que mostra reportagem de Claudio Gradilone, editor de finanças da revista Istoé Dinheiro. Confira abaixo:

O dilema de André Esteves

Crescer ou lucrar? Com números ruins, o Banco Pan enfrenta a saída de executivos e busca o famoso toque de Midas de seu controlador

Por Cláudio GRADILONE

A sede do Banco Pan, novo nome do antigo PanAmericano, fundado pelo apresentador Silvio Santos, é um dos pontos mais conhecidos da avenida Paulista, em São Paulo. Construído nos anos 1970, o edifício foi adquirido em 2010 pela Brazilian Finance & Real Estate (BFRE), empresa do grupo Ourinvest que, durante anos, liderou o lançamento de produtos financeiros ligados a ativos imobiliários. No ano seguinte, chegaram os executivos do Pan. O banco havia sido comprado pelo BTG Pactual de André Esteves no início de 2011, na esteira de uma fraude que gerou um rombo de R$ 4,5 bilhões. Meses depois, o Pan comprou a BFRE. 

Esse complexo encadeamento de negócios fez com que o prédio passasse por diversas transformações. Executivos perderam suas salas e passaram a despachar em um espaço comum. O espaço dos funcionários encolheu. A mudança mais recente e relevante ocorreu há poucos dias e não passou pela decoração. Em 10 de janeiro, a versão online da DINHEIRO antecipou que seis executivos, entre eles Fábio Nogueira, fundador da BFRE, haviam deixado seus cargos. Iuri Rapoport, principal executivo operacional, Willy Jordan, diretor de relações com investidores, Sérgio Cipovicci, do crédito a veículos, e Márcia Ambrosano, da área de cartões, foram embora e não serão substituídos.

 

Suas funções vão ser redistribuídas pelos remanescentes. Em nota, o banco informou que os profissionais saíram “após participarem de uma etapa primordial e bem-sucedida de reestruturação da instituição”. Divulgar comunicados em linguagem neutra faz parte da coreografia corporativa. No entanto, os fatos são bem menos róseos. Eles não partiram por falta de competência, muito menos por deficiências na execução de seu trabalho. Com exceção de Nogueira, cuja saída já estava prevista desde a compra da BFRE, o motivo do enxugamento foi aritmético. O Pan precisa cortar custos, e rápido. Esteves tem pressa para melhorar os números.

 

Há tempos que os resultados deixam a desejar, apesar do famoso toque de Midas de Esteves. Nos três primeiros trimestres de 2013, o Pan lucrou R$ 31,2 milhões, queda de 41,5% ante o lucro de R$ 53,4 milhões do mesmo período de 2011, primeiro ano da gestão BTG. Em 2012, o prejuízo foi de R$ 457,5 milhões até setembro. Pior que o lucro minguado foi o fato de ele ter ocorrido quando os empréstimos mais do que triplicaram. Segundo dados do Banco Central, em setembro de 2011 a carteira de créditos do Pan era de R$ 4,4 bilhões. Em 2013, ela havia avançado para R$ 12,5 bilhões, sem considerar as perdas com provisões. 

 

Ou seja, mesmo emprestando quase o triplo do que fazia em 2011, o Pan está ganhando menos com os créditos que concede aos clientes. Os números fracos refletiram-se na bolsa. Entre o fim de 2011 e a quarta-feira 22, suas ações caíram 26,4%, enquanto o índice de empresas financeiras subiu 14,2%. Há dois motivos para esse desempenho ruim. O primeiro é externo. Seus principais mercados, especialmente financiamentos a veículos e empréstimos consignados, têm sido adversos. “O banco Pan, como outros de médio porte, tem um modelo de negócio difícil, que requer escala”, diz Edgard Dias, diretor da agência de classificação de risco Standard & Poor’s. 

 

A nota do banco é boa, “BB+” em escala internacional, um nível abaixo do grau de investimento, devido à solidez de seus controladores, BTG e Caixa Econômica Federal. No entanto, as perspectivas para esse rating são negativas. Para a agência, o sistema financeiro brasileiro não tem bons prognósticos, devido ao crescimento acelerado do crédito e ao comprometimento da renda dos consumidores. “Esses fatores são ruins para todos os bancos e um grupo de oito instituições de menor porte, entre elas o Pan, poderá ser mais afetado”, afirma Dias. O segundo motivo é interno. Desde a aquisição pelo BTG, o Pan vem fazendo esforços enormes. 

 

Os compradores praticamente refizeram o banco do zero para superar os problemas herdados dos tempos de Silvio Santos. No entanto, também foi preciso lidar com culturas opostas. De um lado, funcionários acostumados com a rotina da concessão de pequenos empréstimos. De outro, os egressos do BTG, afeitos ao ritmo frenético dos bancos de investimento, com seus bônus generosos, metas ambiciosas e exigências elevadas. “O choque foi inevitável”, diz um executivo. As dificuldades de integração comprometeram o crescimento. Um bom exemplo são os empréstimos automotivos. 

 

O volume total desses créditos encolheu 4,6% nos 12 meses findos em setembro de 2013, para R$ 232,1 bilhões, apesar de os empréstimos totais dos bancos terem crescido 15,7% nesse período, para R$ 2,6 trilhões. Quem conhece o mercado vem observando que o Pan tem sido pouco agressivo na concessão de empréstimos automotivos. O mesmo vale para os créditos consignados, onde a pressão dos líderes de varejo para ganhar mercado tem sido intensa. Outro problema é quanto o Pan ganha ao conceder crédito. José Acar Pedro, o experiente executivo que comanda a operação, enfrenta uma decisão difícil cada vez que seus funcionários aprovam um empréstimo. 

 

O banco pode optar por manter esse crédito nos livros, esperando o vencimento e embolsando totalmente o ganho, ou pode antecipar o recebimento, cedendo o empréstimo para outro banco, operação muito comum conhecida como cessão de créditos. Isso vale para os empréstimos imobiliários, uma das especialidades da BFRE, que chegou a inaugurar 89 lojas para vendê-las, batizadas de BM Sua Casa (rebatizadas de Pan Sua Casa). Porém, em vez de trilhar o caminho de conceder financiamentos, transformá-los em títulos de renda fixa e colocá-los em fundos, o Pan tem preferido antecipar os empréstimos, cedendo-os à Caixa, o que reduz o lucro das operações. 

 

É uma saída rápida, mas que sucateou a estrutura laboriosamente montada pela BFRE, que inaugurou a securitização de recebíveis imobiliários no Brasil. O contrato firmado entre o BTG e a Caixa garante boas condições para o Pan. “No entanto, a cada vez que o Pan cede um empréstimo para a Caixa, ele abre mão de uma parcela dos lucros”, afirma Dias. Mais do que isso, ao ceder os empréstimos, o Pan reduz sua carteira, adiando o ganho de escala desejado por Esteves. É um dilema, por enquanto, sem solução à vista. 

 

Na divisão das atividades após a aquisição, o BTG ficou com a área de fundos imobiliários, que acumulava um patrimônio de R$ 13 bilhões, dos quais R$ 3 bilhões sob gestão ativa e outros R$ 10 bilhões com serviços de custódia e administração. Todo o restante permaneceu com o Pan, que não vem dando continuidade às atividades da área. É como comprar uma Ferrari – algo típico dos jovens banqueiros de investimento – e deixá-la parada na garagem. Os executivos que saíram do Pan não foram localizados pela reportagem. Procurados, Pan e BTG Pactual não concederam entrevista.

 

Fonte: 247


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