O BC surpreendeu ao rolar contratos de "swap" cambial (operação que equivale a uma venda de dólares futura) que venceriam nesta semana.
Com isso, bancos se desfizeram de contratos de compra futura de dólares, o que empurrou ladeira abaixo a taxa de câmbio. Mas, afinal, o que pretende o BC?
Como é sabido, a política monetária adotada --o regime de metas de inflação-- tem por premissa o uso da taxa de juros básica (a Selic) como o principal instrumento de controle inflacionário.
A ideia é que o BC tenha condições de regular a demanda agregada e, com isso, consiga influenciar os preços.
As metas de inflação, portanto, são alvos cujo encarregado de alcançá-las é o BC. Essa é sua tarefa primordial.
Por outro lado, como decorrência da adoção do regime de flutuação cambial, cabe ao mesmo BC se eximir de influenciar a taxa de câmbio e de interferir na sua direção. Cabe ao mercado a fixação da taxa de câmbio.
Em resumo, diante desse tipo de política macroeconômica (cambial + monetária), não há meta cambial.
No entanto, diante de um contexto macroeconômico menos favorável (crescimento pífio e inflação fora do centro da meta), o BC tem conduzido uma combinação de política cambial e de política monetária um tanto "heterodoxa": a taxa Selic tem sido mais utilizada para turbinar a economia, e menos para empurrar a taxa de inflação para o centro da meta.
É nesse quadro de mudanças que deve ser interpretada a nova postura cambial. Como no passado recente, o uso de uma âncora cambial, ainda que informal, pode ser a opção adotada para perseguir uma taxa de inflação mais próxima da meta. Com essa estratégia, preservaria a "conquista" de uma taxa de juros mais baixa.
De todo modo, fica a impressão de que o BC está atuando de forma confusa, sem saber ao certo a melhor taxa de câmbio. Ou a meta a ser alcançada: menor inflação ou maior crescimento?
Fonte: Folha de São Paulo