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Itaú, BB, Bradesco e Santander: Lucro de grandes bancos cresce 21% no 2º tri, mas risco aumenta

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12/08/2022 - 08:55

O motor desse crescimento foi o crédito, que continua forte e tem superado as expectativas do próprio setor

Os quatro maiores bancos de capital aberto viram ao mesmo tempo o lucro e o risco aumentar no segundo trimestre deste ano. Juntos, Itaú Unibanco, Banco do Brasil (BB), Bradesco e Santander lucraram R$ 26,6 bilhões entre abril e junho em termos recorrentes, alta de 20,6% em relação ao mesmo período de 2021.

O motor desse crescimento foi o crédito, que continua forte e tem superado as expectativas do próprio setor, na esteira da recuperação (ainda que claudicante) da atividade econômica. A carteira de empréstimos e financiamentos dos quatro grandes avançou 16,8% em 12 meses, para R$ 3,4 trilhões. O volume maior e a expansão de linhas relacionadas à retomada do consumo pós-pandemia contribuíram para um aumento de 10,5% na margem financeira bruta, que somou R$ 68,83 bilhões. Teria sido ainda mais forte não fosse o desempenho da margem com o mercado, que reflete operações de tesouraria e gestão de balanço, e chegou a cair em alguns bancos por por causa da rápida escalada dos juros.

Mas, se carteira de crédito e spreads estão subindo, nem tudo é positivo. As despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) subiram 49,8%, para R$ 21,53 bilhões. A constituição dessas reservas para perdas no crédito em parte reflete o crescimento da carteira, mas também sinaliza que os bancos estão vendo um aumento do risco de inadimplência em um ambiente de inflação e juros elevados.

Nesta semana, o presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, afirmou que um crescimento do PIB deste ano ao redor de 2% não é suficiente para aliviar a situação da parcela da população que sente mais o impacto da inflação. O executivo ressaltou que o Brasil está num “cenário inflacionário forte” e disse que alguns segmentos estão perdendo capacidade de pagamento.

A grande incógnita é saber até onde a inadimplência subirá, depois de já ter voltado aos patamares pré-pandemia na maioria das instituições. O combo de inflação, juros e eleição torna muito difícil projetar o quanto o crédito pode se expandir no ano que vem, mas a expectativa é de desaceleração da economia. “Vemos um cenário de inadimplência subindo, é uma questão do mercado como um todo”, afirmou ontem o vice-presidente de gestão financeira do BB, Ricardo Forni.

 

A expectativa dos bancos é que a inadimplência ainda suba nos próximos meses e depois se estabilize. Até agora, os atrasos se concentram nas carteiras de pessoa física e pequenas empresas.

 

No Santander, o CEO Mario Leão disse que os portfólios de pequenas empresas e pessoa física do banco tiveram uma piora na inadimplência no trimestre. Apesar disso, afirmou que não espera uma deterioração adicional. De acordo com ele, ainda não é possível afirmar que a instituição financeira chegou ao ponto máximo do indicador de atrasos. “Mas dá para dizer que temos um portfólio cada vez mais sadio”, ponderou.

O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr., afirmou que os índices de inadimplência de curto prazo (atrasos de 15 a 90 dias) dão a ideia “do que pode vir pela frente”, ao citar a queda de 3,6% para 3,5% de março para junho. A composição da carteira, segundo ele, é favorável porque quando uma linha não vai bem, a outra compensa. “Acho que não tem necessidade de apertar mais o crédito, as curvas mais curtas já mostram alguma melhora na inadimplência”, disse. “Deve ter alguma piora ao longo do terceiro e quarto trimestres, com perspectiva de melhora no ano que vem.”

Para Maluhy, do Itaú, os calotes das famílias devem se estabilizar no último trimestre deste ano ou no primeiro de 2023. O executivo ressaltou que a inadimplência caiu muito na pandemia e, por isso, o aumento que houve entre março e junho “não é relevante” diante da expansão da carteira e da margem financeira do banco.

No Banco do Brasil, Forni disse que a inadimplência ainda não deve alcançar neste ano índices anteriores à pandemia. Porém, o executivo reconheceu que a taxa de pessoas físicas — que passou de 3,82% em março para 4,31% no fim do segundo trimestre — cresceu em patamar importante. “Em linhas onde vimos a inadimplência aumentar acima do esperado, já temos muita ação no risco de crédito, visando controle da carteira”, disse.

O presidente do BB, Fausto Ribeiro, reforçou a mensagem, explicando que o banco tem uma inadimplência abaixo da média do mercado, com um índice de cobertura elevado, o que dá conforto para crescer em linhas de maior risco/retorno. Segundo ele, ainda que haja um aumento dos atrasos em pessoa física, isso deve ser compensando pela carteira de agro, onde o índice está melhorando. “Estamos crescendo em linhas de maior risco com muito cuidado, atenção, para manter a inadimplência muito controlada.”

 

Se o crédito cresceu, a vertical de serviços também reagiu à retomada pós-pandemia. Entretanto, isso se deu numa intensidade insuficiente para bater a inflação. A receita de serviços dos quatro bancos foi de R$ 32,204 bilhões no trimestre, alta de 5,3% na comparação anual. O IPCA acumulado em 12 meses até junho foi de 11,89%.

As instituições vêm absorvendo a perda de arrecadação em conta corrente — inclusive com o Pix — com a melhora em cartões, seguros, consórcios, administração de fundos e outros.

 

Ao mesmo tempo, os bancos apertaram o cinto para cortar gastos, por outro lado. As despesas operacionais cresceram 0,5% no segundo trimestre sobre igual intervalo de 2021, o que equivale a um corte em termos reais. As instituições vêm investindo em tecnologia, ao mesmo tempo em que reduzem gastos com agências e tentam controlar despesas com pessoal — considerando que a categoria dos bancários teve reajuste de 10,97% no ano passado e deve conseguir algo parecido na próxima rodada.

No geral, a rentabilidade dos grandes bancos voltou a superar 20%, retomando os patamares de antes da crise financeira de 2015/16. Algumas instituições até melhoraram as projeções de resultados em 2022. Para um ano que começou com uma forte onda da variante ômicron, viu a guerra eclodir na Ucrânia e, depois, a inflação disparar no mundo todo, não é um resultado nada ruim.

Resta saber como será 2023. Para Leão, do Santander, é “difícil imaginar que não vai haver contração econômica no segundo semestre e no primeiro semestre do ano que vem, em função dos juros”. Lazari, do Bradesco, disse que as perspectivas para o próximo ano são muito negativas. “Quando começou a pandemia, disse isso várias vezes: tudo o que eu peço é que a gente não tenha uma taxa de juros alta para que as pessoas possam alongar suas dívidas com uma taxa de juros baixinha e todo mundo consiga pagar. Mas infelizmente isso não aconteceu e a gente está vivendo com esse fantasma da inflação, e consequentemente política monetária apertada”, disse

Maluhy também não está otimista. “É mais inflação e mais taxa de juros, e a taxa de juros acaba inibindo demanda em vários produtos e gerando seleção adversa em outros, que são as pessoas dispostas a pagar mais juros, mas terão mais dificuldade de honrar com os compromissos”, afirmou o presidente do Itaú.

Forni, do BB, alertou que há muitas incertezas para 2023. “O próximo ano vai trazer outros desafios. A carteira em 2023 é grande incógnita para todo mundo.”

Fonte: Valor Econômico

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