Acionistas minoritários da BB Seguridade estão unindo forças para conquistar uma cadeira no conselho de administração da empresa, apurou o Valor. A medida é relevante, do ponto de vista desses investidores, porque eles enxergam potenciais riscos de governança em função do relacionamento da empresa com seu controlador, o Banco do Brasil (BB).
Os produtos da BB Seguridade são vendidos por meio das agências do BB. Na avaliação dos minoritários, o valor da BB Seguridade depende muito de como será a relação com o controlador - basicamente em como se dará o incentivo à força vendedora dos produtos, os gerentes do banco, e também a alocação de custos.
Vários fundos estão em conversas avançadas para fazer a indicação. O nome escolhido deverá ser o de Isabel Ramos, que trabalhou na área de gestão do Opportunity e hoje está na XP. Ela já foi conselheira de outras companhias abertas, como Eletrobras e Usiminas. Entre os fundos que discutem o assunto estão Lazard, BlackRock e JGP, todos com pouco mais de 1% da empresa cada um; além de Arx, Squadra, Brasil Plural, Dynamo, Opportunity, com fatia perto de 0,5%; e Geração Futuro, SPX, Vinci, GAP e Gávea, com menos de 0,5%.
O BB controla a Seguridade com 66,25%. Os minoritários desejam apenas poder acompanhar com mais proximidade o relacionamento entre as empresas, uma vez que hoje não existe nenhuma queixa específica. No entanto, diante da interligação dos negócios, não descartam que futuramente conflitos possam surgir. Um evento recente chamou a atenção dos acionistas. Na última divulgação de resultados, o BB, segundo eles, detalhou mais os números de seu segmento de cartões. No segundo trimestre, a análise de desempenho divulgada pelo banco dedicou seis páginas ao assunto cartões. No trimestre anterior, apenas meia página. Essa medida, na avaliação do mercado, pode ser um sinal de que o BB prepararia uma listagem em separado também de seu segmento de cartões, juntando as participações na Cielo, Elo e também o negócio de emissão dos plásticos. Como já hoje o mesmo funcionário que vende os seguros vende os cartões, os acionistas entendem ser relevante acompanhar um eventual processo nesse sentido bem de perto.
Procurado pelo Valor, o BB nega que exista qualquer estudo para a realização de um novo IPO e esclareceu que dados sobre o desempenho da área de cartões são regularmente divulgados nos informes de resultado.
Com 81,4 milhões de cartões emitidos, o BB está entre os três maiores emissores de cartões do país com uma fatia de 20% do mercado. As atividades de credenciamento são feitas por meio das participações que o banco tem na Cielo e na CBSS/Alelo. Na bandeira, o banco é sócio da Elo. Segundo informações do BB, a área de serviços de cartões teve um resultado operacional de R$ 1,2 bilhão no primeiro semestre.
Em relatório recente, o Bank of America Merrill Lynch citou a possibilidade de um potencial "destravamento de valor" no BB no caso de o banco ter sucesso em sua "reestruturação da área de cartões de crédito". O relatório também falava que outros ativos, como a NeoEnergia, poderiam ser objetos de um IPO.
Atualmente, o conselho da BB Seguridade é formado por seis pessoas. Um dos conselheiros já é classificado como independente, o jornalista Guilherme Barros, atual assessor do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e ex colunista da "Folha de S.Paulo", "iG" e "Istoé Dinheiro". A BB Seguridade afirmou que Barros foi eleito antes do IPO, quando não existiam, portanto, acionistas minoritários. Apesar de ser considerado como independente, inclusive com a anuência da BM&FBovespa, ele, de fato, segundo a empresa, não representa os atuais acionistas da companhia. No entanto, a substituição desse conselheiro independente por um representante dos minoritários já estava prevista, esclarece. Procurado, Barros pediu que os contatos fossem feitos diretamente com a BB Seguridade.
O presidente do conselho da empresa é Alexandre Corrêa Abreu, vice-presidente de negócios de varejo do BB. Também integram o órgão Ivan de Souza Monteiro, vice-presidente de gestão financeira e relações com investidores do BB; Francisca Lucileide de Carvalho, chefe de gabinete do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; Fabio Franco Barbosa Fernandes, subsecretário para assuntos econômicos do Ministério da Fazenda; e José Henrique Paim, secretário executivo do Ministério da Educação.
Fonte: Valor