É preciso que o governo reduza gastos e sinalize, de forma clara, que trabalha de maneira integrada na defesa da estabilidade econômica a fim de estimular investimentos, segundo eles
As últimas duas semanas foram marcadas pela deterioração das expectativas quanto ao crescimento. Já eram ruins as previsões anteriores, e elas caíram ainda mais. Há um mês, o Boletim Focus, do Banco Central (BC), apresentava a estimativa do mercado de alta de 1,62% para o Produto Interno Bruto (PIB), bem abaixo da média esperada para a América Latina, de 2,7%. Na semana passada, porém, as apostas já estavam em 1,24%, com perspectivas de queda da produção no segundo trimestre do ano.
Mesmo assim, a inflação não cede. A estimativa do Focus para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano está em 6,46% — eram 6,43% há um mês. Há quem fale em estouro do limite de 6,5%, o teto da meta, dois pontos acima do centro. O mais intrigante é que isso ocorre apesar de o Brasil ter uma taxa básica de juros de 11%, uma das mais altas do mundo.
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O início do último ciclo de altas foi em julho do ano passado, quando a taxa subiu de 8% para 8,5%. No princípio, houve recuo no acumulado do IPCA. Mas, neste ano, mesmo com novas doses de altas, a inflação não parou de subir (leia quadro). Para especialistas, a razão disso é impotência do BC para fazer frente à alta do custo de vida sem contar com a ajuda de outros setores do governo. “A política monetária é como um antibiótico. Não adianta o doente achar que vai se curar se não tiver cuidados, incluindo tomar outros remédios prescritos. Se não fizer o que é necessário, o antibiótico acaba ficando cada vez menos eficiente”, explica o economista Claudio Porto, presidente da consultoria Macroplan.
Um dos pontos mais atacados pelos críticos é o excesso de gastos do governo. O Banco Central tem dito, por meio de seus documentos, que a política fiscal é neutra: não ajuda nem atrapalha. “Isso é controverso”, questiona a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. “Mas, mesmo que fosse neutra, não bastaria. Tem de ser contracionista para fazer frente aos equívocos que resultaram no aumento da inflação”, afirma.
Fonte: Correio Braziliense