Rio - O dragão da inflação voltou a assustar: o IPCA, índice oficial, teve a maior alta para janeiro em dez anos. Apesar das manobras do governo, os reajustes foram generalizados e atingiram três quartos dos produtos, no momento em que a economia sinaliza recuperação, de baixo desemprego e de renda em expansão, dizem analistas. Pressionado sobretudo por alimentos, o índice ficou em 0,86% em janeiro, segundo o IBGE.
Foi o maior nível desde abril de 2005 e a mais alta taxa para janeiro desde 2003, ano de crise e choque cambial. Em 12 meses, o IPCA se aproximou ainda mais do teto da meta do governo (6,5%) e fechou em 6,15%. Segundo analistas, não fosse a antecipação do corte da tarifa de energia para o fim de janeiro e o adiamento, a pedido do Ministério da Fazenda, dos reajustes de ônibus no Rio e em São Paulo, a inflação superaria a “marca psicológica” de 1%, conforme antecipou a Folha de S. Paulo.
Para Juan Jensen, sócio da Tendências Consultoria, tais ações mostram que o Brasil não faz uma maquiagem dos índices de preço como a Argentina, mas “administra” reajustes importantes “para mascarar um processo inflacionário em curso”. Outro exemplo, diz, é o represamento da alta da gasolina, que só vai pesar na inflação de fevereiro. O produto está abaixo dos preços internacionais, comprometendo o caixa da Petrobras e sua capacidade de investimento.
Jensen diz que as medidas reduzem a credibilidade do Banco Central, que adotou uma política monetária frouxa nos últimos três anos. Ou seja, manteve juros baixos e aceitou uma inflação maior. Agora, diz, o BC colhe os efeitos de empresários indexarem seus preços, repassando mais rapidamente e de modo mais intenso aumentos de custos e aproveitando para recomporem suas margens de lucro. Apesar de concentrada em alimentos, que subiram 1,99% em janeiro -a maior alta para o mês desde 2003 sob efeito de problemas climáticos.
Fonte: Jornal O Popular