Juro menor e crescimento lento da economia em 2013 terão efeito negativo para os bancos, avalia Paulo Gala, da Fator
O mercado financeiro está reavaliando as ações de bancos para baixo e os papéis do setor de construção para cima, após a ata do Copom reforçar as apostas dos economistas de que a taxa básica de juros continuará caindo no ano que vem. Algumas instituições revisaram suas estimativas para a Selic, atualmente em 7,25% ao ano, e agora esperam seu recuo até 6,25% no fim de 2013.
Com a economia dando sinais de fraqueza e o risco de a inflação acelerar, um cenário de juro real negativo já é visto como provável, o que complicaria a rentabilidade dos bancos e, ao mesmo tempo, representaria um incentivo ao setor de construção.
"A curva de juros derreteu. A taxa do DI para janeiro de 2014 já está abaixo de 7%", observa o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala. "E o mercado já está colocando esse novo cenário no preço das ações, vendendo bancos e comprando construtoras."
Gala acrescenta que, além da ata do Copom, os dados abaixo do esperado do PIB e da produção industrial reforçaram a aposta do mercado em uma nova rodada de afrouxamento monetário. "Os últimos quatro dias foram horríveis em termos de perspectivas para o crescimento da economia."
O economista-chefe da Planner Corretora, Eduardo Velho, já previa uma redução da Selic para 6,5% no ano que vem, com o início do ciclo em agosto. "Depois da ata, acreditamos que os cortes serão retomados já em maio de 2013."
Velho acredita que a revisão para baixo das expectativas de crescimento econômico poderá reverter as perspectivas de expansão da carteira de crédito dos bancos, especialmente os privados. "Além disso, o governo tem adotado uma política de pressão sobre o setor, usando bancos públicos para forçar a queda do spread", lembra o especialista da Planner.
Já para o setor de construção, a queda dos juros e os sinais de fraqueza da economia poderão ter um viés positivo, avalia Velho. "Juro menor barateia o financiamento imobiliário. E se a expansão do PIB continuar lenta, o governo certamente vai tentar usar ferramentas para impulsionar setores de maior peso na economia, com a construção civil, o automotivo e o de bens de capital."
Gala, da Fator, acha difícil a economia crescer 4% no ano que vem. "Está mais para 3% do que para 4%. E se crescer mais de 3%, a inflação pode disparar", alerta, o que reforça a tese de juro real negativo, algo que não acontece no Brasil desde a década de 70.
Ontem, as ações do setor financeiro mostraram volatilidade, mas permaneceram a maior parte do pregão em baixa. Bradesco PN recuou 2,06%; Itaú Unibanco PN se recuperou no fechamento e encerrou em baixa de 0,33%; enquanto Banco do Brasil ON marcou queda de 0,40%. Apenas Santander Brasil Unit teve leve alta de 0,76%.
A liberação de até R$ 15 bilhões dos depósitos compulsórios para empréstimos foi considerada positiva para o setor, segundo avaliação do Bank of America Merrill Lynch. O que os bancos emprestarem com as condições do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) 2013, anunciado na quarta-feira pelo ministro Guido Mantega, será abatido do compulsório sobre depósito à vista que as instituições são obrigadas a deixar no Banco Central (BC) sem nenhum tipo de remuneração. Ainda assim, a notícia não teve força para evitar uma realização no setor.
Entre as construtoras, a história foi outra. PDG Realty ON (3,93%), Gafisa ON (3,15%), MRV ON (2,67%) e Brookfield ON (1,51%) figuraram entre as principais altas do dia. "O setor vinha com desempenho abaixo da média do mercado até o governo anunciar medidas de desoneração de folha de salários, nesta semana. Agora as ações estão corrigindo o atraso", avalia o gestor de um fundo local.
O Ibovespa recuou apenas 0,04%, para 57.656 pontos, com volume de R$ 6,408 bilhões. Investidores demonstraram maior cautela, à espera de notícias sobre o andamento das negociações para evitar o abismo fiscal americano. Eles também aguardam os dados do "payroll" nesta sexta-feira, que revelará quantos empregos foram gerados nos Estados Unidos em novembro. O dado, no entanto, deverá ficar abaixo da média dos últimos meses, na casa de 80 mil empregos, segundo os economistas, devido ao efeito da passagem do furacão Sandy pela Costa Leste.
Também mereceu destaque ontem o desempenho de Santos-Brasil Unit (7,44%), que reagiu ao pacote para os portos anunciado pelo governo. "Ao contrário dos outros pacotes setoriais anunciados este ano, esse aparentemente não trouxe nenhuma medida ruim", avaliou um gestor.
Na outra ponta da bolsa, Embraer ON perdeu 3,32% após a notícia de que sua concorrente Bombardier recebeu um pedido de 40 jatos regionais da Delta, avaliado em US$ 1,85 bilhão, com opção de compra de mais 30 aviões.
Fonte: Valor Econômico