Copom decidiu manter a Selic a 14,25% após sete altas seguidas.
Veja a repercussão da decisão do Banco Central.
Após sete aumentos consecutivos nos juros básicos da economia brasileira, implementados desde outubro do ano passado, logo após o fim das eleições presidenciais, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu colocar o pé no freio e manteve, em reunião terminada nesta quarta-feira (2), a taxa Selic estável em 14,25% ao ano.
Os juros seguem, mesmo assim, no maior nível em nove anos, ou seja, desde julho de 2006. Antes do início deste ciclo de alta, em setembro do ano passado, a taxa básica de juros da economia estava em 11% ao ano. Com isso, a taxa Selic, que serve de referência para o mercado financeiro, avançou, ao todo, 3,25 pontos percentuais nos últimos meses.
Veja abaixo a repercussão da decisão do BC:
Estava na hora de passar um sinal de alguma coisa positiva. A inflação está começando a ser controlada"
Eduardo Mekitarian
Eduardo Mekitarian, professor de Economia da FAAP, em entrevista ao G1.
“Estava na hora de passar um sinal para o mercado de alguma coisa positiva. A decisão de não aumentar a taxa de juros sinaliza que o efeito do aumento dos preços que são administrados pelo governo já se diluiu razoavelmente. Portanto, a inflação está começando a ser controlada, isso é uma coisa muito positiva e que já estava mais do que na hora de acontecer. Mas a taxa de juros de 14,25% ainda está alta. O resultado da produção industrial que saiu nesta terça por exemplo é terrível. A taxa de desemprego ainda tem tendência a subir em função da baixa produção industrial. Então a decisão do Copom é também um sinal para os industriais, porque o empresário está sendo asfixiado por ela. Outra coisa também importante é a queda do investimento direto estrangeiro no Brasil. O investimento especulativo vem por causa das taxas. Mas o investimento produtivo este ano caiu 33%. A queda de investimento produtivo de fora pra dentro associada a uma queda de investimento interno é catástrofe. Hoje estamos com uma das taxas de investimento mais baixas entre os países emergentes, é a menor de todas. Cerca de 17% do PIB, isso é irrisório.”
Se o Copom subisse os juros, iria gerar um mau humor no mercado que pioraria a inflação."
Jason Vieira
Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management, em entrevista ao G1
“Todos os indicadores divulgados nas últimas semanas - emprego, atividade econômica, produção industrial etc - não permitiam mais um aumento de juros. Já existe uma resposta da inflação e da atividade econômica às altas anteriores. Nesse contexto, ficava difícil justificar mais uma alta de juros. A inflação já está começando a dar sinais, as últimas foram mais baixas. Uma parcela disso é uma resposta não só à questão do crédito, mas também em relação à atividade econômica mesmo. Com desemprego em alta, a inflação naturalmente perde força. Se o Copom, ainda neste cenário, subisse os juros, iria gerar um mau humor no mercado que mexeria com a moeda ainda mais e pioraria o quadro inflacionário. Agora, temos que esperar os efeitos defasados das sete altas seguidas. Varia de 6 a 9 meses o impacto da decisão na economia.”
Maurício Molan, economista-chefe do banco Santander Brasil, em entrevista à Reuters.
"A decisão mostra que o BC está bastante confiante de que a política monetária está num patamar apertado o suficiente para reduzir a inflação"
A decisão era esperada, tendo em vista a recessãoda economia"
Alencar Burti
Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), em nota
“A decisão do Copom de manter inalterada a Selic era esperada, tendo em vista a recessão que afeta a economia brasileira - e que vem se agravando rapidamente, em virtude da incerteza no tocante ao ajuste fiscal. Entendemos que a política de aumentar juros para conter a inflação já superou o limite do razoável e que, agora, o BC precisa começar, o mais rapidamente possível, a reduzir a taxa Selic. Por fim, o governo precisa demonstrar claramente que está cortando despesas de custeio e não investimentos."
o governo injeta anabolizante no setor financeiro"
Miguel Torres
Miguel Torres, Presidente da Força Sindical, em nota
"A decisão é um escândalo, e coloca uma pá de cal na atividade econômica. Basta ver o resultado do PIB acumulado em 2015, de -2,1%, e a produção industrial acumulada até agora, de -6,6%. Paradoxalmente, o governo derruba a atividade econômica, os empregos e fecha empresas. Mas, por outro lado, injeta anabolizante no setor financeiro, que está crescendo. A Demonstração Financeira dos Bancos mostra que o crescimento médio dos cinco maiores bancos do país, foi, no 1º trimestre, de 21,8%. Enquanto isto, as projeções para a produção industrial, neste ano, conforme o Boletim Focus, é de -5,6%, e o PIB de -2,3%."
Fonte: G1