Os clientes dos grandes bancos privados continuam com sobras de recursos e buscam aplicações financeiras. Os bancos, por sua vez, mantêm cautela na concessão de crédito, preocupados em preservar a qualidade de seus ativos diante de uma economia com baixo crescimento. O resultado dessas duas tendências é o acúmulo de recursos nas instituições financeiras, principalmente nas grandes, o que o mercado chama de excesso de liquidez.
Movimento semelhante já havia sido observado em 2012. Ainda não há dados públicos sobre o que ocorre agora em cada banco, mas, segundo executivos de grandes instituições, os balanços do segundo trimestre devem apontar que a sobra de caixa continuou a se ampliar nos últimos meses. O funcionário de um banco privado de grande porte relata que a liquidez da instituição está em um nível recorde. O fenômeno é mais característico dos bancos privados, porque os públicos, por decisão do governo, mantêm uma política de crédito mais agressiva.
O dinheiro tem entrado nos grandes bancos em volume superior ao da saída. Enquanto o crédito custa a engrenar e frustra as projeções de avanço para o ano, os clientes dos bancos continuam com sobra de recursos para aplicar. O resultado, principalmente para as instituições privadas, é um aumento de liquidez.
O movimento já havia sido observado em 2012 e, segundo executivos de grandes instituições, os balanços do segundo trimestre deste ano devem apontar que essa sobra de caixa continuou a se ampliar nos últimos meses. O fenômeno é mais característico dos bancos privados porque os públicos mantém uma política de crédito mais agressiva.
"Há um acúmulo de liquidez no sistema, o crescimento do funding maior que o do crédito", afirma o executivo de um dos maiores bancos privados do país. Segundo ele, as instituições continuam mais cautelosas na concessão de crédito, preocupadas em manter a qualidade de seus ativos diante de uma economia que cresce pouco. O funcionário de outro banco privado de grande porte relata que a liquidez da instituição está em um nível recorde.
Para minimizar o impacto dessa ampliação da liquidez sobre seus balanços, as instituições orientam suas equipes a direcionar o máximo possível dos recursos dos clientes para fundos de investimento. "O banco tem alguma capacidade de evitar esse empoçamento em seu balanço, mas é inevitável que haja algum porque nem sempre o cliente quer aplicar em fundos", diz um executivo.
No primeiro semestre deste ano, a captação líquida dos fundos foi de R$ 100 bilhões, um volume recorde para o período, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Até certo ponto, os bancos têm conseguido frear a entrada de dinheiro. De janeiro a junho deste ano, o estoque de captações por meio de depósitos a prazo e letras financeiras somou R$ 1,021 trilhão, com alta de apenas 2,33% sobre o saldo de dezembro. É uma expansão em linha com a registrada pelo crédito com recursos livres (exclui imobiliário e BNDES). No ano até maio, números do Banco Central mostram que o saldo dos empréstimos com recursos livres subiu 2,3%. Mas os dados de captação e crédito são globais e não refletem com precisão o quadro dos grandes bancos privados.
O controle da entrada de recursos tem se dado principalmente via Certificados de Depósito Bancário, cujo estoque encolheu 4% no período. O saldo de letras financeiras, Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito Agrícola (LCA) está em alta. Isso porque os bancos também têm aproveitado a sobra de dinheiro para captar com instrumentos mais baratos - casos da LCI e da LCA, que são isentas de impostos para os compradores - e de mais longo prazo - feita pelas letras financeiras, cuja prazo mínimo de vencimento é de dois anos. Na poupança - segunda principal fonte de funding dos bancos -, os ingressos fluem com força. Até junho, a captação líquida da poupança estava em R$ 28,3 bilhões neste ano, superando os R$ 15,5 bilhões do mesmo período de 2012.
Para um funcionário de banco privado, a liquidez do sistema como um todo deve se ampliar em 2013 porque, diferentemente de 2012, agora os bancos públicos tenderiam a se tornar mais seletivos nos empréstimos. "As captações seguem bem e têm permitido manter o equilíbrio desejado de liquidez e sustentar a expansão da carteira de crédito", disse um dirigente de um banco federal. "O crescimento de crédito vai depender da demanda, que se desacelerou um pouco nos financiamento de bens duráveis e empréstimos a empresas. Mas vai bem em crédito direcionado e consignado."
No primeiro trimestre, a liquidez de Bradesco e Itaú Unibanco chegou a recuar. O índice que mede a razão entre crédito e funding aumentou nos dois bancos entre dezembro do ano passado e março - quanto maior o índice, menor a liquidez. No Bradesco passou de 92,3% para 98,6%, enquanto no Itaú subiu de 90,1% para 94,1%. De abril a junho, a tendência teria se invertido novamente.
Esse aumento da liquidez traz alguns tipos de impacto para os bancos. É importante porque significa que os bancos podem passar com menos sobressaltos por momentos de maior tensão no mercado, como o atual. Outro ponto é que os bancos de forma geral ficam preparados para uma eventual retomada da expansão do crédito, tão logo surja um cenário mais favorável. Algo que ainda parece distante.
Por ora, fica a tarefa de manobrar um caixa tão cheio, o que costuma afetar negativamente a última linha do balanço dos bancos. Aplicações em títulos públicos costumam render bem menos do que uma concessão de crédito. "É uma equação difícil. Mas o banco pode pôr tudo a perder se decidir emprestar e o cliente não pagar", diz o executivo de um dos maiores bancos privados do país.
Fonte: Valor Econômico