São Paulo - O dia era de baixa do dólar, após o governo zerar na véspera o Imposto de Operações Financeiras (IOF) para estrangeiros, mas eis que surgem o ministro Guido Mantega e depois a presidente Dilma Rousseff para falar que o governo não adota medidas para conter a taxa de câmbio e que o dólar não será usado contra a inflação.
“Eu queria informar que esse País adota o regime de câmbio flexível”, afirmou Dilma, durante um evento sobre meio ambiente. Bastou para a cotação do dólar subir de R$ 2,13 para R$ 2,15, em 20 minutos.
Isso levou o Banco Central a intervir para frear a alta do dólar, com operações que equivalem à venda de dólar no mercado futuro. O discurso também elevou as taxas de juros negociadas no mercado de títulos.
Para analistas, a sinalização é que, se o governo não pretende usar o câmbio como instrumento para baixar a inflação, a saída será elevar ainda mais os juros, hoje em 8% ao ano.
As taxas negociadas para janeiro de 2014 saltaram de 8,45% para 8,5% ao ano, e as de janeiro, de 2017, de 8,69% para 9,84% ao ano.
“Não me lembro de o presidente Lula falar sobre câmbio num dia como esses. Ele tinha o bom senso de não se pronunciar nesses momentos. A impressão que passa é que o governo está com o discurso completamente desafinado”, disse Mario Batistel, gerente de câmbio da corretora Fair Trade.
Antes da presidente, o ministro Guido Mantega (Fazenda) havia feito comentários que mudaram o rumo da cotação do dólar.
A moeda americana, que abriu o dia em queda de 2%, começou a subir depois que o ministro disse a redução do IOF para investimentos estrangeiros é uma medida de “longo prazo” e que o câmbio não será usado contra a inflação.
“Inflação é combatida de outra maneira. É bom que se diga que ela está caindo. Por exemplo, os preços dos alimentos estão todos caindo. A safra começou”, disse. “Daqui para a frente, a inflação será cada vez menor”.
Os dois pronunciamentos fizeram com que a cotação do dólar à vista tivesse um dia de forte volatilidade e fechasse em R$ 2,131, queda de 0,28%.
Na contramão do Brasil, no exterior o dólar teve um dia de queda, com previsões pouco animadoras sobre o mercado de trabalho nos EUA.
Fluxo cambial
Pela primeira vez este ano, a entrada de dólares para transações comerciais e financeiras foi robusta em maio. O Banco Central (BC) divulgou ontem que a diferença de ingresso e saída desses recursos ficou em US$ 10,7 bilhões no mês passado, o maior volume mensal desde julho de 2011, quando atingiu a marca de US$ 15,8 bilhões. No primeiro bimestre, o saldo ficou negativo. Em março, foi registrada uma leve reação e, em abril, o resultado estava em US$ 3,5 bilhões.
O fechamento de maio só não foi mais expressivo porque a saída de dólares do País na última semana do mês foi maior do que a entrada.
Fonte: Jornal O Popular