Os bancos europeus reduziram sua exposição, créditos e empréstimos no Brasil em quase US$ 100 bilhões em apenas um ano. Os dados são do Banco de Compensações Internacionais (BIS), O órgão destaca que a crise na zona do euro tem provocado retração da atividade internacional dos bancos da região e uma queda drástica dos empréstimos, mesmo diante da injeção de trilhões de dólares pelos bancos centrais dos países ricos.
Para a entidade com sede na Basileia, reformas prometidas não estão sendo realizadas e a ação de socorro dos BCs "tem seus limites". Dados do BIS, portanto, explicitam como o sistema financeiro ainda não conseguiu se recuperar e, no caso dos bancos europeus, perdem espaço de forma radical pelo mundo.
Às vésperas do colapso do Lehman Brothers, em 2008,78% dos I créditos internacionais concedidos ao Brasil vinham da Europa. Hoje, essa taxa caiu para 63%. A relação entre a Europa e o Brasil, porém, é apenas um reflexo de um cenário mais amplo.
Apenas no segundo trimestre de 2012, os bancos de todo o mundo voltaram a fechar suas torneiras e os empréstimos sofreram a segunda maior queda desde 2009. A contração apenas no trimestre foi de US$ 575 bilhões, em grande parte por culpa dos bancos de países europeus.
Europa, Japão e Estados Unidos apresentaram queda de empréstimos de US$ 318 bilhões entre março e junho, aprofundando a redução de US$ 64 bilhões que já havia sido identificada no início do ano. Na zona do euro, a queda foi de US$ 75 bilhões, ante uma redução de mais US$ 187 bilhões pelos bancos britânicos.
A exposição de bancos internacionais nos mercados do sul da Europa também voltou a cair, em US$ 16 bilhões. Com essa queda de 7%, bancos têm US$ 201 bilhões em créditos na Espanha, Itália, Portugal e Grécia. Parte desses bancos está trocando sua exposição nesses mercados
í por papéis da dívida do setor público da Alemanha e França. No total, papéis da dívida na Europa já atraíram US$ 1,7 trilhão.
O BIS deixa claro que a injeção de recursos pelos BCs nos mercados está apenas dando tempo para permitir que os bancos façam as reformas necessárias para voltarem a atuar com solidez. O problema é que, segundo o BIS, as reformas não estão ocorrendo e bancos continuam sem emprestar, aprofundando a crise.
Segundo Stephen Cecchetti, economista-chefe do BIS, o sistema financeiro está mais seguro hoje e os bancos reconheceram suas perdas. Mas as reformas e a aplicação do acordo da Basileia III ainda estão incompletos. "Sem reformas, economias não voltarão a crescer", diz ele.
Retração, Na avaliação do BIS, um dos fatores que mais chama a
atenção é a retração das atividades internacionais dos bancos europeus, em busca de soluções aos problemas de suas sedes. 1 Apesar de os créditos para emer-; gentes terem se mantido estáveis no segundo trimestre de 20i2? com alta de 0,2% (US$ 6 bilhões), a redução da exposição aos emergentes foi de US$ 128" bilhões. No caso do Leste Europeu, a queda foi de 57%. O caso brasileiro é também um dos destaques. Em meados de 2011, os empréstimos e posições de bancos europeus no Brasil somavam US$ 416 bilhões. Ao final daquele ano, o volume já tinha sido reduzido para US$ 351 bilhões. Agora, os novos números apontam um total de apenas US$ 322 bilhões. Em um ano, a redução foi de US$ 94 bilhões.
Grande parte desse fenômeno se explica pelos bancos espanhóis no Brasil, que ao final do primeiro semestre tinha no País um estoque de participação de US$ 169 bilhões, US$ 20 bilhões a menos que em março de 2012. .Bancos britânicos também reduziram suas exposições em US$ 9 bilhões em três meses.
A situação dos bancos europeus acabou afetando o resultado geral do Brasil. No segundo trimestre do ano, o País registrou uma contração de empréstimos de US$ 5,5 bilhões, a segunda maior entre todos os países emergentes e superado apenas pelo Gatar. Rússia, índia, México e China registraram no mesmo período uma forte expansão.
Os números apontam que, desde 2010, o volume ao Brasil vem caindo. Há dois anos, o País atraiu US$ 83 bilhões em novos créditos. Em 2011, foram US$ 31 bilhões. Parte das atividades dos bancos europeus tem sido substituída por capital nacional e mesmo por bancos de outras regiões, instituições americanas, aumentaram sua participação.
Bancos asiáticos também estariam tomando o lugar deixado pelos europeus. Um exemplo é a própria Ásia, com a substituição dos empréstimos que antes vinham de bancos.da Suíça por capital local. O aumento foi de US$ 613 bilhões entre 2008 e 2012, alta de 41%. Mas a participação dos bancos europeus despencou de 27% para apenas 13%.
No caso brasileiro, a expansão da exposição mundial também foi verificada entre 2008 e 2012.
Os estoques de exposição aumentaram 34%, de US$ 377 bilhões para US$ 507 bilhões. Mas, assim como na Ásia, a tendência foi acompanhada por uma marginalização dos bancos europeus.
Fonte: O Estado de S. Paulo