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Economista do Itaú tenta explicar baixo desemprego

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05/03/2014 - 15:07

Inconformado com o "desemprego em níveis historicamente baixos", como ele mesmo reconhece, o economista Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central no governo FHC e atual economista-chefe do Itaú, tenta explicar o que chama de "paradoxo"; segundo ele, desemprego tão baixo não faria sentido com um PIB "ao redor de 2%"; Goldfajn diz que, na verdade, "há menos trabalhadores disponíveis para a economia" e prevê sinais de "esgotamento" e "falta de mão de obra" para o futuro

247 - Inconformado com o "desemprego em níveis historicamente baixos", como ele mesmo reconhece, o economista Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central no governo FHC e atual economista-chefe do Itaú, tenta explicar o que chama de "paradoxo" em artigo no jornal O Globo. Isso porque não faria sentido um desemprego tão baixo com um PIB "ao redor de 2%". Leia:

Para onde vai o desemprego?

Não é comum ter desemprego baixo numa economia fraca. Em geral, a desaceleração da economia contamina o mercado de trabalho, pelo menos depois de um tempo. Mas nos últimos anos no Brasil o PIB tem crescido ao redor de 2%, enquanto o desemprego continuou caindo para 5%. É importante. Afinal, o desemprego tem relevância única para a sociedade. Na economia, afeta o poder de compra e o consumo, sem falar na sua contribuição para a produção. Nas pesquisas de bem-estar figura como determinante. Por isso, é crucial na política, pois pode decidir eleições. Mas o que explica esse aparente paradoxo entre crescimento e desemprego? Qual é a consequência para a economia?

Apesar do desemprego baixo, o crescimento mais fraco do PIB afetou o mercado de trabalho, pelo menos na criação de empregos. A quantidade total de trabalhadores (população ocupada) caiu 0,1% em janeiro em relação ao mesmo mês do ano passado. Essa taxa de crescimento anual alcançou 2,1%, em média, em 2011 e 2012, e em torno de 3,0% no período entre 2006 e 2008, antes da crise financeira mundial.

O paradoxo é que, não obstante a menor criação de emprego, o desemprego permaneceu baixo. Uma explicação importante são as mudanças demográficas. Há menos trabalhadores disponíveis para a economia. A razão é simples: se a população cresce menos, o número de trabalhadores disponíveis para a economia também diminui. Na faixa etária de 20 a 59 anos, grupo que forma grande parte da força de trabalho, a desaceleração do crescimento passou de 2% ao ano (2004-2008) para 1,4% ao ano (2009-2013). No fim da década, esperamos expansão de apenas 0,7%. Uma queda e tanto.

Mas a dinâmica demográfica explica apenas uma parte da queda da População Economicamente Ativa (PEA) e do desemprego baixo. Ocorre que mesmo pessoas em idade ativa estão desistindo de trabalhar. De 2012 a 2013, a média de inativos entre os jovens de 18 a 24 anos subiu de 1,58 milhão para 1,62 milhão, uma alta de 47 mil. Pode parecer pouco, mas não é, quando consideramos que a população nessa faixa etária diminuiu em 115 mil nesse período.

A desaceleração das contratações provavelmente explica parte da queda na taxa de participação dos jovens na economia. Diante das taxas mais baixas de crescimento econômico, uma parcela da população em idade ativa desistiu de procurar emprego. Desde 2012, houve aumento de 8.700 jovens na situação "nem-nem", que não trabalham, não procuram emprego e nem estudam (os números referem-se às seis regiões metropolitanas da PME/IBGE).

A boa notícia é que a grande maioria dos jovens que desistiu de trabalhar (82% do total, 38.700) desde 2012 está estudando. Esses jovens devem voltar no futuro ao mercado de trabalho, espera-se que mais qualificados e produtivos, o que será benéfico para a economia. Mas isso não é imediato, pois quem está estudando em geral demora mais para voltar ao mercado de trabalho.

Um fator que pode ter contribuído para a redução da participação desses jovens no mercado de trabalho é o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), um programa do governo para a educação superior. O número de matrículas no Fies, que era de 50 mil por ano, em média, entre 1999 e 2009, saltou para 556 mil em 2013.

Na verdade, o Fies pode potencializar o efeito da desaceleração da economia na procura por trabalho. Com condições mais fáceis e menor custo para conseguir financiamento dos estudos, um enfraquecimento da economia que reduz as opções no mercado de trabalho pode levar os estudantes a optar por estudar mais.

Quais as consequências desse fatores para a economia?

Na última década, a forte expansão do mercado de trabalho foi possível, em grande parte, pela existência de ociosidade de mão de obra. Havia pessoas disponíveis para trabalhar em abundância, o que permitiu o emprego crescer a taxas elevadas durante o ciclo recente de expansão econômica. Contudo, com a taxa de desemprego em níveis historicamente baixos, associada a um baixo crescimento do número de jovens em idade de trabalhar, esse processo mostra sinais de esgotamento. De fato, começam a surgir restrições à expansão da economia advindas das condições do mercado de trabalho.

Sem imigração ou aumento relevante da produtividade do trabalho (ou seja, produzir mais com o mesmo número de trabalhadores), haverá falta de mão de obra e menor contribuição do trabalho para o crescimento. A força de trabalho já tem contribuído menos para a expansão do PIB (de 1 ponto percentual entre 2004 e 2008 para 0,6% nos próximos anos).

A atual falta de ganhos de produtividade está aumentando os custos da economia, tornando-a menos competitiva. A solução para a frente é mais fácil de diagnosticar do que de implementar. É necessário aumentar a produtividade da economia através de mais investimento (inclusive infraestrutura) e educação. A boa notícia é que uma parte dos jovens está adiando a entrada no mercado para estudar mais.

Fonte: 247


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