Depois de ter registrado uma alta de quase 2% na terça-feira, o dólar mostrou certo alívio em relação ao real ontem, seguindo o movimento de desvalorização da moeda americana no exterior.
No curto prazo, porém, permanece a tendência de desvalorização do câmbio diante do pessimismo dos investidores com a situação fiscal do Brasil e com o fluxo cambial que caminha para fechar o ano negativo, o que não ocorre desde 2008, e deve continuar trazendo pressão de alta para o câmbio. Em outubro, o saldo cambial ficou negativo em US$ 6,2 bilhões, o pior resultado para o mês desde 1997, ampliando o déficit no ano para US$ 5,361 bilhões, de acordo com dados divulgados ontem pelo Banco Central. Se continuar nesses níveis, este ano terá o pior fluxo cambial desde 2002, quando houve déficit de US$ 12,989 bilhões.
Ontem os investidores aproveitaram o adiamento da teleconferência da agência de classificação de risco Standard & Poor's sobre crescimento e dívida soberana do Brasil para promover um ajuste técnico da divisa americana, que já acumula valorização de 2,19% no mês. O dólar comercial caiu 0,26%, encerrando em R$ 2,283.
Além da percepção negativa dos investidores com o país e a preocupação com o risco de rebaixamento da nota de risco, o fluxo cambial traz mais uma pressão de baixa para o real, uma vez que tende a aumentar com o crescimento do envio de remessas de lucros e dividendos no fim do ano. O saldo negativo de US$ 6,2 bilhões em outubro é resultado de uma saída líquida de US$ 5,137 bilhões da conta financeira e um déficit de US$ 1,063 bilhão da conta comercial. O resultado da conta financeira foi impactado principalmente pelo envio de remessas para o exterior.
Para o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme, a perspectiva é que o fluxo financeiro continue negativo devendo encerrar o ano com déficit perto de US$ 10 bilhões.
No ano, o fluxo cambial está negativo em US$ 5,361 bilhões, resultado de saída líquida de US$ 14,465 bilhões da conta financeira e superávit de US$ 9,104 bilhões da conta comercial. No mesmo período do ano passado, o fluxo cambial estava positivo em US$ 18,277 bilhões. Com o resultado negativo de outubro, os bancos encerraram o mês passado com uma posição vendida no mercado à vista de câmbio de US$ 12,289 bilhões, a maior desde junho de 2011, quando ficou em US$ 14,696 bilhões.
Diante do fluxo cambial negativo, o Banco Central tem garantido a oferta de dólares para os bancos por meio de linhas com compromisso de recompra. Em outubro a autoridade monetária liquidou a venda de US$ 4 bilhões por meio de linha de dólar. Para Nehme, essa posição vendida dos bancos tende a aumentar, uma vez que é esperado um déficit de US$ 20 bilhões do balanço de pagamentos, e os bancos terão que suprir essa falta de dólares no mercado. "A questão é até onde os bancos vão se sentir confortáveis em manter essas posições vendidas, o que poderia obrigar a autoridade monetária a manter o programa de intervenção no ano que vem ou passar a vender dólares no mercado à vista."
Ontem o diretor do BC, Carlos Hamilton, destacou que o programa de swaps cambiais está funcionando bem e "pode ser prolongado além do fim do ano."
Fonte: Valor