SÃO PAULO - O dólar ganhou força frente ao real depois do comunicado do Comitê de Política Monetária do Federal Reserve (Fomc). O fato de o comunicado mostrar que o banco central americano continua vendo uma melhora da atividade econômica e do mercado de trabalho a despeito da paralisação do governo com o impasse fiscal nos Estados Unidos em outubro, trouxe maior incerteza sobre quando a autoridade monetária americana iniciará a redução dos estímulos. Os investidores com posições compradas em dólar aproveitaram esse fato para puxar a cotação do dólar para cima, que encerrou com valorização de 0,46% em relação ao real a R$ 2,1920. O contrato de dólar para novembro avançava 0,25% para R$ 2,192.
O real acompanhou o movimento de desvalorização das principais moedas emergentes em relação ao dólar lá fora, após o comunicado do Fomc. O Dollar Index, que acompanha o desempenho da divisa americana em relação a uma cesta com as principais moedas, zerou a queda depois do comunicado e subia 0,17%. Pela manhã, o dólar chegou a cair depois dos dados mais fracos do mercado de trabalho no setor privado nos Estados Unidos.
Apesar de não trazer grande surpresa em relação ao comunicado anterior , os investidores avaliaram que o Fed não mostrou grande preocupação com relação ao impasse fiscal nos Estados Unidos, que provocou a paralisação do governo federal por 16 dias. O acordo alcançado em outubro estendeu o limite do teto da dívida até 7 de fevereiro, o implicaria em uma nova negociação no ano que vem. A autoridade monetária americana limitou-se a destacar no comunicado que a política fiscal está contendo o crescimento econômico. “Esperava-se que o Fed desse mais ênfase neste assunto no comunicado”, afirma Jankiel Santos, economista-chefe do BES Investimentos do Brasil.
O Fed também retirou do comunicado a referência ao recente aperto das condições financeiras, com o recuo das taxas dos títulos do Tesouro americano (Treasuries).
O economista do BES aponta que isso , no entanto, ainda não é suficiente para mudar a expectativa de que a retirada dos estímulos pelo Fed deva ocorrer só no ano que vem, mas traz mais incerteza para o mercado.
No mercado doméstico, o mercado de câmbio opera nesta semana sob a influência da disputa pelo fechamento da Ptax, que será definida amanhã, e será utilizada para a liquidação dos contratos de derivativos cambiais que vencem em 1º de novembro.
Os maiores interessados em puxar a Ptax para cima são os investidores estrangeiros, que fecharam a sessão de ontem com posições compradas em dólar de US$ 17,9 bilhões. Os investidores institucionais também carregam posições a favor do dólar, mas num montante menor, de US$ 7,2 bilhões. As instituições bancárias fazem a ponta contrária e mantêm posição vendida em dólar de US$ 27,2 bilhões.
Chama atenção ainda o aumento de US$ 811 milhões na posição comprada em dólar do grupo “Pessoa Jurídica Não Financeira”. Com isso, essa categoria passou de uma posição comprada em dólar de US$ 1,1 bilhão na segunda para US$ 1,9 bilhão ontem.
Hoje o Banco Central concluiu a rolagem de mais um lote de US$ 3 bilhões nesta semana, rolando mais 20 mil contratos, que somaram US$ 989,6 milhões.
Com isso, o BC completa a rolagem de 67,64% dos US$ 8,87 bilhões em contratos de swap cambial que tinham vencimento previsto para 1º de novembro deste ano.
Na última quinta-feira , o BC informou que faria a rolagem do restante de US$ 5,87 bilhões em contratos que venceriam no início de novembro, que seria realizada por meio de leilões nos dias 28, 29 e 30 de outubro. Na semana passada, o BC rolou US $ 3 bilhões desse lote, restando agora, com a rolagem de mais US$ 3 bilhões desta semana, US$ 2,87 bilhões a serem renovados. A autoridade monetária, no entanto, ainda não informou se fará a rolagem ou liquidará o restante do lote.
O mercado já trabalha com a possibilidade de que a autoridade monetária opte pela rolagem parcial d o lote de US$ 8,87 bilhões em contratos de swap.
O BC também seguiu o cronograma e vendeu os 10 mil contratos de swap cambial previstos no programa de intervenção diária no mercado de câmbio, cuja operação somou US$ 496 milhões.
(Silvia Rosa | Valor)
Fonte: Valor