SÃO PAULO - Depois de ter acumulado uma alta de 1,81% na semana, o dólar hoje passou por um ajuste técnico no mercado local, ajudado pelo cenário externo. No entanto, as pressões de baixa sobre o real permanecem com os investidores ainda preocupados com o quadro macroeconômico do Brasil.
O dólar comercial encerrou em queda de 0,66% a R$ 2,4060. O contrato futuro para março recuava 1% para R$ 2,413.
Depois de figurar entre as divisas emergentes com pior desempenho frente ao dólar ontem, o real hoje era destaque entre as maiores altas em relação à moeda americana .
Lá fora, o dólar perdeu força depois do anúncio de dados econômicos fracos dos Estados Unidos, que reforçam a perspectiva de que um aumento da taxa de juros nos EUA está mais distante. O Dollar Index, que acompanha o desempenho da divisa americana em relação a uma cesta de moedas, recuava 0,48%.
Os pedidos de seguro-desemprego nos EUA aumentaram para 339 mil na última semana, acima da previsão dos analistas, que esperam uma queda para 330 mil solicitações, ante o número de 331 mil da semana anterior. Já as vendas de varejo americanas recuaram 0,4% em janeiro em relação a dezembro, resultado pior que o esperado pelo mercado, que previa uma queda de 0,1%.
No mercado local, o real passava por uma correção, depois de ter descolado dos seus pares emergentes nesta semana, diante da preocupação com um aumento do custo de energia e do risco de racionamento, que colaboram para agravar a deterioração dos fundamentos econômicos do país. “O real está ajustando hoje depois de dias apanhando. É um movimento mais de correção técnica. O investidor fica mais receoso em montar posição comprada com o câmbio acima dos níveis atuais”, afirma Italo Abucater, especialista em câmbio da ICAP Corretora.
Na semana o dólar sobe 1,13% frente ao real. A título de comparação, no mesmo período, a moeda americana recua 1,23% ante a lira turca, 1,34% frente ao rand sul-africano e 0,24% em relação ao peso mexicano.
Apesar do alto custo do carregamento das posições compradas em dólar, em função da taxa de juros em 10,5%, limitar um avanço maior da moeda americana, a piora da perspectiva em relação ao Brasil continua a exercer pressão de alta na taxa de câmbio.
Os investidores aguardam qual será a solução do governo para cobrir o aumento do custo da energia, se ele será repassado para os consumidores ou se Tesouro arcará com essa despesa. Para os analistas, um aumento do gasto para financiar o custo de energia pode afetar a credibilidade da política fiscal, que o governo vem tentando recuperar e limit ar um efeito positivo do anúncio de um esforço fiscal maior para este ano para cobrir os juros da dívida.
A questão deve ser resolvida até 20 de fevereiro, quando o governo deve anunciar a nova meta de superávit primário e de contingenciamento do Orçamento para 2014.
Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, um cenário menos negativo para o Brasil seria o governo deixar esse custo ser repassado para os consumidores e combater o impacto na inflação com a taxa de juros. “Isso ajudaria a restabelecer a credibilidade da política fiscal que vem sendo questionada.”
O gestor de câmbio do Brasil Plural, Rony Gielman , afirma que boa parte do impacto do custo da energia já está refletido no câmbio. Gielman concorda que um cenário menos negativo seria se o governo repassar esse custo para o consumidor. “Mas acho isso muito difícil de acontecer em um ano eleitoral, mas se o Tesouro financiar esse custo o me rcado voltará a questionar a credibilidade da política fiscal.”
Nesse cenário, o executivo do Brasil Plural vê espaço para uma alta maior do dólar, que pode alcançar o patamar de R$ 2,50 até o fim do primeiro semestre. “Achamos que o câmbio só não sobe mais porque temos um ano eleitoral pela frente e uma valorização do dólar teria impacto na inflação.” Para ele, o Banco Central vai tentar mitigar uma al ta mais acentuada do dólar que teria um efeito negativo para o governo na eleição.
Em entrevista à revista Exame, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que a desvalorização do real foi “significativa” e que o BC pode utilizar as reservas internacionais para suavizar o ajuste no câmbio decorrente de uma correção mais geral nos preços de ativos financeiros em meio ao processo de normalização das condições financeiras e monetárias pelo qual o mundo passa.
Dando sequência às atuações no câmbio, o BC rolou hoje mais 10.500 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão, elevando a US$ 3,097 bilhões o montante rolado até o momento referente a um lote de US$ 7,378 bilhões que vence no início de março.
Mais cedo, a autoridade monetária vendera 4 mil contratos de swap cambial tradicional, movimentando o equivalente a US$ 197,1 milhões. A colocação ampliou a posição vendida em dólar do BC junto ao mercado por meio desse derivativo a US$ 81,602 bilhões.
(Silvia Rosa | Valor)
Fonte: Valor