SÃO PAULO - Apesar do PMI industrial da China ter vindo mais fraco, a expectativa de que o governo chinês anuncie medidas para impulsionar a economia levou as moedas de países atrelados a commodities a fecharem em alta frente ao dólar hoje. No mercado local, a valorização do real foi limitada pela divulgação do aumento do déficit em conta corrente em fevereiro, que traz de volta a preocupação com a vulnerabilidade externa do Brasil. No mês, no entanto, a forte entrada de recursos para renda fixa e de captações externas tem garantido a boa performance da moeda brasileira.
O dólar comercial fechou em queda de 0,17% a R$ 2,3220, menor patamar desde 6 de março. O contrato futuro para abril recuava 0,08% para R$ 2,328.
Lá fora o dólar caía frente às principais divisas atreladas a commodities diante da expectativa de que o governo chinês adote medidas de estímulo para impulsionar a economia. A leitura preliminar do índice dos gerentes de com pras (PMI, na sigla em inglês) do HSBC para o setor manufatureiro da China caiu para 48,1 em fevereiro, de uma leitura de 48,5 registrada em janeiro, atingindo o menor nível em oito meses.
A perspectiva de que o governo chinês adote medidas de estímulos foi reforçada após declarações de oficiais do governo da China. Na última semana, o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, disse que os planos de investimento e construção poderiam ser acelerados para garantir que a demanda doméstica se expanda a uma taxa estável. Hoje o vice-ministro das Finanças da China, Zhu Guangyao, disse que o potencial de depreciação do yuan não é tão grande, sinalizando que o governo pode agir para conter a queda da moeda.
O dólar caía 0,54% frente ao dólar australiano, 0,58% em relação ao rand sul-africano e 0,25% diante do dólar canadense.
No mercado local, a valorização do real foi limitada pela preocupação dos investidores com aumento do déficit em conta corrente, o que reforçou a expectativa de que a oferta de dólares ao Brasil neste ano pode, a exemplo do ano passado, seguir menor do que nos últimos anos. O déficit em conta corrente, no acumulado de 12 meses, subiu de 3,67% do PIB em janeiro para 3,69% do PIB em fevereiro. O Banco Central também revisou a projeção para o déficit em conta corrente no ano, que passou de US$ 78 bilhões para US$ 80 bilhões. “A ampliação do déficit em conta corrente aumenta a vulnerabilidade da economia brasileira. Por enquanto, o fluxo de investimento para portfólio tem garantido o financiam ento desse déficit, mas uma mudança no cenário internacional pode levar a uma reversão desse fluxo”, afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil.
A piora do desempenho da balança comercial é o principal fator que levou o BC a ampliar a projeção para o déficit em conta corrente. O BC reduziu a projeção de superávit da balança comercial de US$ 10 bilhões para US$ 8 bilhões no fim do ano. O estrategista do Mizuho, no entanto, espera uma queda ainda maior, prevendo um superávit de US$ 5 bilhões para o fim de 2014.
Em fevereiro foram registradas entradas de US$ 4,132 bilhões para Investimento Estrangeiro Direto (IED) e de US$ 2,166 bilhões para aplicações em carteira, que foram suficientes para cobrir o déficit de US$ 7,445 bilhõe s em conta corrente.
A forte entrada de recursos para renda fixa e de captações externas tem garantido a boa performance do real no mês, que acumula ganho de 0,99%. . Segundo dados do BC, no mês, até o dia 20, o fluxo cambial estava positivo em US$ 5,095 bilhões, com a maior parte dos ingressos concentrada na conta financeira.
Com o dólar abaixo de R$ 2,35, os investidores discutem se o BC fará a rolagem integral do lote de US$ 10,148 bilhões em contratos de swap cambial com vencimento previsto para 1º de abril. Hoje o BC rolou mais 10 mil contratos, cuja operação somou US$ 492,7 milhões. Com a rolagem de hoje, restam US$ 4,648 bilhões em swaps a serem renovados.
“Acho muito pouco provável o BC não fazer a rolagem integral”, diz o profissional de uma corretora de câmbio.
A autoridade monetária também vendeu todos os quatro mil contratos de swap cambial tradicional ofertados hoje como parte do programa de intervenção no câmbio, cuja operação movimentou US$ 198,0 milhões. A colocação ficou restrita ao vencimento 1º de dezembro e tem liquidação no dia 25 de março. Com o leilão de hoje, a posição do BC vendida em dólar junto ao mercado via swaps alcançou US$ 86,403 bilhões.
(Silvia Rosa | Valor)
Fonte: Valor