SÃO PAULO - O alívio no cenário externo, após dados econômicos fracos nos Estados Unidos, contribuiu para uma recuperação das moedas emergentes frente ao dólar. O real, que estava atrás nesse movimento de correção verificado nesta semana, hoje figurou entre as divisas que mais subiram frente ao dólar. Os investidores aguardam o anúncio na semana que vem da meta do superávit primário, em meio a tentativa do governo de projetar um esforço fiscal maior para tentar recuperar a credibilidade da política fiscal.
No mercado local, o dólar comercial fechou em queda de 0,83% a R$ 2,3860, mas acabou fechando a semana em alta de 0,29%. No mês, a moeda acumula queda de 1,08%. Já o contrato futuro para março recuava 0,39% para R$ 2,394. “O mercado de câmbio mostrou uma trégua no movimento de compra de dólar. Com alívio no cenário externo, os investidores aproveitaram para reduzir suas posições compradas na moeda americana e realizar parte do lucro”, afirma José Carlos Amado, operador de câmbio da Renascença Corretora.
Lá fora, o dólar recuava frente às principais moedas emergentes após dados econômicos mais fracos dos Estados Unidos, que se somaram à safra de indicadores negativos divulgados ontem e que reforçam o cenário de que a economia americana ainda está em um processo de recuperação gradual, afastando o risco de uma antecipação de um aumento da taxa de juros nos EUA .
O dólar caía 0,98% frente ao rand sul-africano, 0,51 em relação à rupia indiana e 2,23% diante da rupia da Indonésia.
O índice preliminar de confiança do consumidor nos EUA, medido pela Universidade de Michigan em par ceria com a Reuters, permaneceu estável em fevereiro a 81,2 pontos. Já a produção industrial americana recuou 0,3% em janeiro na comparação mensal, primeira queda desde julho do ano passado, reflexo do frio intenso que atinge os Estados Unidos.
Segundo relatório do Barclays, moedas de países como do Brasil e da Índia, que passaram por uma forte correção no recente movimento de venda generalizada de ativos emergentes, oferecem oportunidade de investimento. Nesse cenário, o banco recomenda a compra do real frente ao dólar, lembrando a taxa atrativa com o “carry trade” – operações que buscam ganhar com a arbitragem da taxa de juros – dada a taxa Selic em 10,5%.
No caso da América Latina, o banco vê a forte seca e as altas temperaturas na região como grande risco para a meta de inflação dos países na região, destacando a possibilidade de um apagão e racionamento de energia no Brasil.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse hoje que o risco de falta de energia no país é mínimo. Mesmo que não ocorra um racionamento, a falta de chuvas deve levar ao acionamento das usinas térmicas, que têm um custo mais caro de energia. O mercado aguarda qual será a decisão do governo sobre a cobertura do aumento de despesa, se ele será repassado para os consumidores ou será custeado pelo Tesouro. Se o governo optar pela segunda opção poderá afetar a credibilidade do anúncio de um contingenciamento do Orçamento e da nova meta de superávit primário para 2014, que deve sair na semana que vem.
Hoje o Banco Central esteve reunido com economistas com o objetivo de colher avaliações do mercado antes do Relatório de Inflação. Os participantes dessa reunião se mostraram mais otimistas com a comunicação do governo, mas preveem um cenário de crescimento menor para o PIB. Parte desses economistas avalia que se o governo seguir a receita de aumentar o superávit primário para 2% do PIB e seguir com o ciclo de aperto monetário abriria espaço para uma melhor dinâmica da atividade em 2015.
Para analistas, apesar da piora dos fundamentos domésticos, o espaço para uma desvalorização mais acentuada do real hoje é mais limitado, com o dólar mantendo um patamar próximo de R$ 2,40 e o BC provendo liquidez por meio das atuações no câmbio.
Seguindo o cronograma do programa de intervenção, o BC hoje vendeu todos os 4 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão nesta sexta-feira, cuja operação movimentou US$ 197,3 milhões. Com isso, a posição vendida em dólar do BC junto ao mercado por meio de swaps cambiais aumentou a US$ 81,8023 bilhões.
A autoridade monetária também realizou a rolagem de mais 10.500 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão. Com isso, o BC já efetivou a rolagem de mais da metade dos US$ 7,378 bilhões nesses papéis que vencem no início de março. Até o momento, foram rolados US$ 3,7651 bilhões, restando US$ 3,6129 bilhões a serem postergados.
Fonte: Valor