Depois de ter ficado cerca de seis anos fora do Brasil, o banco holandês ABN Amro reabre oficialmente suas portas no país nesta semana. Em sua primeira visita a São Paulo, Gerrit Zalm, presidente mundial do ABN Amro, está no país até hoje para reapresentar o banco a clientes e seus funcionários.
A marca do banco holandês ainda pode estar fresca na memória da clientela brasileira, mas nem de longe o banco que Zalm está apresentando ao público se parece com aquele de outrora.
Se, ao ser adquirido pelo Santander, o ABN Amro Real era a quinta maior instituição financeira do Brasil em ativos, agora o projeto de negócios é mais modesto. Passa bem longe do varejo.
"Nossa visão é que não devemos fazer tudo em todos os lugares do mundo, mas focar em áreas nas quais temos tradição e capacidade", disse Zalm, durante entrevista ao Valor ontem.
Por aqui, o ABN Amro será um banco de nicho, voltado para o financiamento do comércio exterior de commodities, de operações de energia e de projetos ligados ao transporte, principalmente portos. O banco pode avaliar, inclusive, financiar programas de concessões.
O redimensionamento não é sem causa. Em 2008, o governo holandês foi obrigado a assumir o ABN Amro no país. Em 2007, um consórcio formado por Santander, Royal Bank of Scotland (RBS) e Fortis arrematou as operações mundiais do ABN.
Coube ao Fortis a fatia holandesa da operação depois de um acordo entre o trio. Um ano depois, porém, o novo Fortis foi nacionalizado para escapar do colapso financeiro a partir de uma capitalização de US$ 30 bilhões do governo holandês.
A espinhosa fusão entre Fortis e ABN Amro terminou no ano passado, quando o banco se viu pronto para recomeçar seus planos de expansão.
"É bom para o nosso perfil de risco não estarmos tão concentrados na economia holandesa. Queremos diversificar", afirmou Zalm. Por 12 anos, o executivo foi ministro das Finanças da Holanda até entrar no ABN. No país, além de ser conhecido pelo cargo público, Zalm é famoso por ser fã de fliperamas - ele nega que tenha mantido uma máquina dessas no seu gabinete como chegou a circular em páginas da internet.
O Brasil é o primeiro país da América Latina para onde o ABN Amro volta, depois de comprar o pequeno banco carioca CR2 no ano passado. A partir daqui, o banco holandês poderá fechar negócios em países como México e Argentina. À frente dessa missão está o holandês Rick Torken, que já trabalhou no Brasil, com passagem pela filial do grupo ING.
Por ora, o ABN Amro renasce no Brasil com um capital de R$ 230 milhões, pequeno perto dos balanços bilionários dos maiores bancos do país. Mas, segundo Zalm, o plano do ABN é trazer mais capital conforme as operações cresçam. "Não temos um balanço gigante aqui, mas é claro que aqui é uma subsidiária. Não há limite [para trazermos recursos]", disse.
Passados os problemas na Holanda, o ABN está fortalecido, com 13,3% de capital de nível 1. Suas operações também são lucrativas, com € 817 milhões no primeiro semestre deste ano.
Para o ABN Amro, reconquistar espaço no Brasil é importante principalmente para os planos que o banco tem para os próximos dois anos.
O governo holandês - de olho no fortalecimento de suas contas - quer vender uma fatia entre 15% e 30% do banco em uma oferta inicial de ações nos primeiros seis meses de 2015. A presença em economias em crescimento pode ser um forte chamariz para investidores, enquanto a Holanda ainda amarga uma recessão.
Pelas estimativas iniciais, o governo poderia levantar US$ 22 bilhões, ainda deixando um prejuízo aos cofres públicos do socorro de 2008. Mas a conta não é a final. "Ninguém sabe ao certo ainda. Pode levar alguns anos até que 100% das ações estejam no mercado", disse Zalm. "Não é impossível que alcance o montante original."
Fonte: Valor