Ao tomar conhecimento ontem que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE, tinha registrado 6,7% no período de 12 meses em Goiânia, estourando o teto da meta do governo que é de 6,5%, o consumidor tinha outra percepção: a de que o poder de compra nos últimos três meses tem perdido força. E não é para menos. Dos alimentos aos serviços, tudo subiu e muito. Os ingredientes mais básicos da salada (tomate, repolho, cenoura e cebola) tiveram reajustes entre 64% e 77%. A solução é fazer pesquisa de preços para equilibrar o orçamento doméstico.
Todo mês a aposentada Maria Monteiro, 64 anos, vê nos noticiários a dança dos números mostrando pesquisas sobre a inflação no País, os porcentuais de aumento de preços, os índices que medem o custo de vida da população. Mas na prática, o que ela sabe é que os ovos e o feijão estão mais caros no supermercado, a cesta básica não abaixou de preço e o dinheiro que economizou com o desconto na energia elétrica foi para pagar a conta de água que aumentou.
É assim que ela percebe, por exemplo, que o Índice de Preços do Consumidor Amplo (IPCA) em Goiânia fechou o mês de março com alta de 0,52%, no acumulado do ano, já representa uma inflação de 1,83% e, em 12 meses, de 6,7% segundo divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em geral, a percepção de boa parte dos consumidores na capital é a de que o poder de compra nos últimos meses tem perdido força.
E não é para menos. Nos três primeiros meses deste ano, os alimentos – produtos que têm maior peso na renda das famílias – foram os grandes vilões da inflação. Os ingredientes mais básicos da salada (tomate, repolho, cenoura e cebola) tiveram reajustes entre 64% e 77%, além do alface, que ficou 19,71% mais caro, segundo o IBGE. Se a comparação for com base nos preços de um ano atrás, a diferença é ainda mais alarmante.
Com o preço médio pago pelo quilo do tomate em março deste ano (R$ 5,51), era possível comprar 2 quilos e 300 gramas do produto em março de 2012 (R$ 2,36 o quilo). O mesmo ocorreu com a batata, cujo quilo subiu de R$ 1,65 para R$ 3,52, conforme preço médio pesquisado pelo Instituto Mauro Borges (IMB). Tais alterações, explicam os especialistas, se deve à sazonalidade – seca no plantio, excesso de chuvas na colheita, além da redução da área plantada, diminuíram a oferta e a qualidade de vários produtos.
A dona de casa Mônica Beatriz Pereira, 33, sentiu no bolso o peso dessa problemática. A feira semanal que ela pagava com apenas R$ 20,00, agora não dá para cobrir os gastos. “Semana passada, gastei R$ 30 na feira e não deu para levar tudo que precisava.”
O aposentado Ormindo Alcântara Reis assiste incrédulo ao esvaziamento do poder de compra da família. Para ele, a elevação gradual dos preços engole parte do orçamento e diminui o padrão de vida. “Minha aposentadoria não acompanhou os preços”, diz. Ele argumenta que os valores dos produtos nas feiras e supermercados estão muito semelhantes, o que tornou a tarefa de pesquisar inócua.
Até pouco tempo, as compras de supermercado da agente de atendimento Débora Faria Martins, 20, eram feitas em um único estabelecimento. Como manobra para driblar a inflação, hoje, realiza pesquisas em diversos supermercados e não deixa de observar panfletos e propagandas nas mídias.
Na ponta do lápis, a advogada Luciene de Araújo, 33, afirma que sente o aumento nos serviços. Ela ressalta que não é frequentadora assídua de salões de beleza, mas conta que, entre um procedimento e outro de tratamento de coloração de seu cabelo, o custo aumentou R$ 30. “Manicure e pedicure também subiram.”
Para prestar serviços hidráulicos e elétricos, Adenício Dias, 20, roda em seu veículo até 80 quilômetros por dia. Após o aumento da gasolina e diesel, autorizado em janeiro pelo governo federal, seu gasto com o produto subiu mensalmente, em média, R$ 100, já que o etanol acompanhou o embalo. “Por isso, tenho de repassar o valor para os meus serviços”, diz o profissional, mostrando, na prática, como funciona a engrenagem da inflação.
Sentimento
Embora os índices de preços apontam para uma desaceleração do aumento do custo de vida, a percepção que as pessoas têm da inflação no orçamento doméstico é sempre de grandes perdas. Um caso emblemático é o da energia elétrica que reduziu mais de 19% ao longo deste ano, mas não é sentido por alguns consumidores. Isso também ocorre com o preço da carne, que está há vários meses está estável, mas que é sempre apontado pela população como um dos motivos do aumento do custo de vida. Para o economista Marcelo Eurico de Sousa, do IMB, essa discrepância pode ser explicada de duas formas.
Uma delas é que vários produtos básicos e de grande consumo, como carne, leite e açúcar, estacionaram com preços muito altos e, por isso, ainda são sentidos com grande peso no orçamento. No caso da energia, que baixou significativamente segundo os índices de preços, a falta de percepção pode ter ocorrido por fatores ligados à mudança de hábitos e aumento da renda – aquisição de novos aparelhos que consomem energia, por exemplo.
Aliado a isso, está o fato de que a inflação em Goiânia, em março, pesou mais do que na média nacional – 0,52% contra 0,47%, respectivamente. A boa notícia é que, para os próximos meses, a tendência é de queda nos índices de preços, afirma o supervisor de Pesquisas Econômicas do IBGE em Goiás, Cristiano Coelho.
Fonte: Jornal O Popular