Decisão unânime de elevar taxa em 0,25% reflete percepção de sinais de desaceleração da economia
Com as perspectivas de crescimento econômico em queda neste ano eleitoral, o Banco Central (BC) decidiu moderar o ritmo de alta dos juros. Em decisão unânime, o BC informou que a taxa Selic, referência para o rendimento das aplicações financeiras e para o custo dos empréstimos bancários, subirá de 10,5% para 10,75% ao ano.
Até então, a taxa havia sido elevada por seis vezes consecutivas em 0,5 ponto porcentual, na tentativa de conter a inflação - que está acima das metas oficiais desde o fim do governo Lula.
Lacônico, o BC relatou, no texto, estar “dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa básica de juros, iniciado na reunião de abril de 2013”.
A medida leva os juros de volta ao mesmo porcentual em vigor no início do mandato da presidente Dilma, que fez da queda das taxas uma de suas bandeiras políticas.
Um ano atrás, a Selic estava em apenas 7,25%, o menor patamar desde que a taxa foi criada, em 1986. O recorde, porém, não resultou na esperada aceleração do consumo e dos investimentos.
O crescimento do PIB em 2013, a ser divulgado em números precisos hoje, ficou em torno de 2%. Para este ano, analistas e investidores esperam taxa ainda mais baixa.
Outras influências
Além da debilidade econômica, outros movimentos do governo e do mercado financeiro provavelmente contribuíram para a decisão de elevar menos os juros, mesmo com os preços ainda subindo bem acima do desejado.
A iniciativa mais vistosa foi o anúncio de uma meta de superávit primário - a poupança que os governos fazem para o abatimento da dívida pública - para 2014 equivalente a 1,9% do PIB.
O porcentual é o mesmo atingido no ano passado, que foi mais baixo desde 1998, e a maior parte dos analistas nem mesmo acredita em seu cumprimento integral.
Ainda assim, sua divulgação serviu ao menos para mitigar as expectativas de uma disparada de gastos públicos no governo federal e nos Estados até as eleições.
Desde o ano passado, as políticas monetária e fiscal da administração petista têm perseguido objetivos contraditórios: a primeira encarece o crédito para conter as compras e os preços; a segunda amplia despesas para injetar mais dinheiro na indústria e no comércio.
O desarranjo ficou mais visível e arriscado com a tendência de alta das cotações do dólar, consequência da recuperação dos EUA.
Uma escalada mais aguda do dólar a encareceria os importados, pressionaria a inflação e tornaria necessária uma alta mais forte dos juros. Esses temores, porém, perderam força nos últimos dias.1.484610
Para líderes e analistas, elevação afeta consumo
Para o presidente do Sindicato dos Bancários de Goiás, Sérgio Luiz a Costa, o aumento da taxa Selic compromete os setores produtivos do País e na prática não tem segurado a inflação. “Os juros crescentes corroem o poder aquisitivo dos trabalhadores e da sociedade brasileira. O governo precisa mudar sua política econômica para garantir segurança e paz social no Brasil.”
Opinião compartilha pelo presidente da Federação do Comércio do Estado de Goiás (Fecomércio-GO), José Evaristo dos Santos, para o qual a nova alta da taxa básica de juros é inimiga do consumo. A medida para ele significa crédito mais caro e, portanto, menos acessível.
Para Cláudio Henrique, economista da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), “é uma decisão preocupante porque tende a desacelerar ainda mais o ritmo de crescimento da indústria, reduzindo os investimentos e, por conseguinte, a geração de emprego”.
Marcelo Ladvocat, professor e doutor em Economia de Empresas, diz que o Brasil, reconhecido internacionalmente como “o eterno país do futuro”, está pagando o preço por sua míope política de incentivo ao consumo, via crédito. “Política essa que ignora os limites da capacidade de produção, distribuição e o mais grave as expectativas dos agentes econômicos. É o resultado de um planejamento econômico esquizofrênico que por um lado pisa no acelerador do consumo e por outro pisa no freio dos investimentos.”
Fonte: O Popular