Alta foi de 0,5% e é a 4ª elevação seguida da Selic desde abril. Objetivo é conter pressões inflacionárias
Pressionado de um lado pela disparada do dólar e de outro pelo crescimento baixo, o Banco Central (BC) manteve ontem o ritmo de alta dos juros em 0,5 ponto porcentual, elevando a taxa Selic para 9% ao ano. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom ), do BC, foi unânime e ficou dentro do esperado por analistas. O comunicado que anunciou a decisão foi idêntico ao das duas reuniões anteriores, indicando que o comitê deve manter a mesma intensidade de elevação dos juros no próximo encontro, em outubro.
Na nota, o BC disse que a “decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”. A disparada recente do dólar, que encarece os insumos e produtos importados, já levou algumas instituições a projetarem inflação maior. O banco Itaú e a consultoria Tendências, que previam um IPCA pouco abaixo de 6%, agora projetam que o índice oficial de preços vai fechar 2013 em 6,1%.
“Apesar do dólar mais caro, o BC está preocupado com o crescimento fraco, por isso não intensificou a elevação dos juros”, disse a economista da consultoria Tendência Alessandra Ribeiro. “Mas projetamos mais duas altas, levando a Selic até 9,75%.” Antes da disparada do dólar, o governo Dilma esperava que os juros não subissem além de 9,25%. Diante do novo cenário, técnicos do governo já falam na possibilidade de mais duas altas, com os juros fechando 2013 em 9,75%.
Ficaria, pelo menos, abaixo dos dois dígitos, algo que, simbolicamente, é importante para o governo. A presidente já deixou claro, porém, que, se for preciso, o BC tem autonomia para tomar as medidas necessárias para combater a inflação.
Assessores presidenciais dizem, no entanto, que o BC terá de levar em conta também, nos próximos meses, os dados sobre a economia. Hoje, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga quanto cresceu a economia no segundo trimestre. A maioria dos economistas espera um resultado melhor do que o do primeiro trimestre, quando o PIB teve alta de apenas 0,6%.
Opinião
Para o economista Eber Vaz, o aumento da taxa da Selic deve gerar segurança no mercado financeiro. Ele explica que essa é uma demonstração de autonomia do BC e mostra que o órgão está preocupado tanto com o controle da inflação quanto com a volatilidade da moeda norte-americana. Dessa forma, diz, o BC cria elementos favoráveis para a permanência de dólares no País. “Ele dá uma sinalização para o mercado financeiro de que está trabalhando sério.”
Entretanto, o economista lembra que a alta da Selic tende a imprimir aumento dos juros das linhas de crédito, queda de investimentos e, teoricamente, uma freada na produção. Porém, entre os meses de agosto e outubro, as indústrias preparam os estoques para atender a demanda das festas de fim de ano. “Acaba que cria uma imagem ruim politicamente, mas não financeiramente. De qualquer forma, as indústrias vão aumentar a produção para atender o Natal”, diz.
Já para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, qualquer impacto de aumento da taxa de juros resulta em aumento do custo de empréstimos e financiamentos, penalizando o setor agropecuário. Ele acredita que a elevação da taxa de juros impacta diretamente nos custos de produção do setor produtivo.
“Entendemos a preocupação do governo federal em relação ao controle da inflação. Entretanto, a elevação da taxa Selic é a medida mais adotada para isso, o que penaliza o setor, com aumentos de custos de investimentos, por meio das linhas de financiamento”, diz.
Fonte: Jornal O Popular