Diante do avanço do atendimento bancário remoto, a pergunta que mais rapidamente vem à cabeça é: quanto tempo levará para as agências de rua deixarem de existir? A resposta a essa questão já não aparece com tanta prontidão assim.
Inúmeros desafios ainda estão à frente dos bancos no processo de digitalização das transações. O primeiro deles é aumentar o acesso dos clientes aos canais fora das agências, principalmente à internet e ao telefone celular.
Da base de clientes do Bradesco, apenas 25% dos correntistas utilizam o internet banking pelo computador e 17% usam aplicativos do banco para celular e tablet. "No Brasil, a penetração dos meios digitais ainda é baixa", afirma Maurício Machado de Minas, vice-presidente do Bradesco.
Métricas semelhantes são relatadas pelos demais bancos. É isso o que reforça ainda a importância da rede de 19.869 pontos construída pelos cinco maiores bancos do país.
Outro entrave importante ao avanço dos canais digitais, porém, ainda persiste. É o papel. No Brasil, diversas transações exigem vias assinadas pelo cliente em meio impresso, incluindo a própria abertura de conta corrente. O documento precisa ser enviado a uma agência e arquivado pelo banco, o que torna mesmo um processo digital ainda bastante material.
"Nenhum projeto de relacionamento tem o objetivo de substituir 100% as agências porque hoje isso não é possível", diz Marco Antonio Ascoli Mastroeni, diretor da área de clientes pessoas físicas do Banco do Brasil. "As agências têm um papel social."
Pouco a pouco, porém, os pontos dos bancos devem ganhar novos aspectos. "Acredito que as agências terão um perfil maior de relacionamento e consultoria. O cliente vai continuar fazendo transações, mas vai buscar a agência apenas para fazer operações mais estruturadas e complexas", explica o diretor setorial de tecnologia e automação bancária da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Gustavo de Souza Fosse.
No Bradesco, a expectativa é que as agências comecem a encolher de tamanho num futuro não muito distante, principalmente nos grandes centros, onde o acesso à tecnologia é mais disseminado.
Entre os bancos, é consenso que o telefone celular tem mais potencial de ampliar o uso de canais alternativos do que o computador. "O celular tende a ser o grande canal de transações", afirma Mastroeni.
Isso porque enquanto nem todos os brasileiros têm acesso à internet, cada cidadão tem 1,4 telefone celular, segundo dados de abril da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Há um mês o Bradesco lançou uma parceria com as operadoras de telefonia celular, por meio da qual o cliente do banco não precisa ter um plano de dados no celular para acessar sua conta pelo dispositivo móvel.
O Bradesco paga às operadoras pelo acesso feito pelo cliente, em um modelo de link patrocinado. Por meio desse sistema, até quem não tem um plano de internet passa a ter acesso ao entrar no site do Bradesco ou efetuar o cadastro na conta pelo aplicativo do celular.
Em pouco mais de um mês de uso desse sistema, as transações por celular já passaram de uma média de 3,5 milhões para 5 milhões por dia.
Fonte: Valor Econômico