Bancos cobram taxas até 5,43% mais altas em relação ao porcentual divulgado pelo Banco Central
Em viagem à Miami (EUA) no início do ano, o engenheiro civil Alex Alves Tavares, 48, aproveitou a vantagem de preço no exterior para comprar um smartphone de última geração por US$ 800. Pagou no cartão de crédito e, quando recebeu a fatura no mês seguinte, já em Goiás, percebeu que a taxa de câmbio cobrada pelo seu banco era 8% mais alta do que a de mercado. Em tese, Alex teria pago cerca R$ 150 mais pelo aparelho apenas pela diferença de cotação.
Na época, ligou para a operadora do cartão para questionar o valor. “Eles me deram uma argumentação qualquer que eu não considerei coerente. O que eu acho problemático é que não há um jogo limpo por parte das empresas de quanto vão cobrar de taxa. E nós, consumidores, sempre ficamos no prejuízo”, critica o engenheiro. A reclamação de Alex é uma bandeira levantada também pela Proteste Associação de Consumidores.
Um levantamento feito pela entidade com as faturas de cartões de crédito de sete bancos mostra que as taxas de câmbio do dólar cobradas pelas instituições podem ser até 5,43% mais altas do que as taxas divulgadas pelo Banco Central para o dólar comercial no mesmo dia de avaliação. Entre os bancos pesquisados (veja quadro), o Santander foi o que cobrou a maior diferença (5,43%) e a Caixa Econômica Federal, a menor (0,45%).
Numa fatura de US$ 1 mil, por exemplo, com taxa do dólar comercial a R$ 2,30, o consumidor economizaria R$ 114,54 no cartão com cobrança de câmbio mais barata, em relação à mais cara. Para a coordenadora Proteste, Maria Inês Dolci, o grande prejuízo para consumidor é a falta de transparência das empresas de cartões de crédito sobre as taxas de câmbio que serão aplicadas sobre a fatura.
Ela explica que não existe uma norma do Banco Central que regulamente o assunto, apenas uma recomendação para que os demais bancos adotem uma média de mercado ou tenham como referência o câmbio do dólar comercial do BC - nos últimos cinco anos, ela foi aproximadamente 6% menor do que a do dólar turismo, informa o Proteste.
“Quando o consumidor faz alguma compra em algum site internacional ou quando viaja, ele sabe que deve utilizar o cartão de crédito com cautela, devido à cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 6,38%. Entretanto, as pessoas não têm como questionar a taxa de câmbio, porque não há transparência sobre essa cobrança. Isso tira a condição do consumidor de escolher por aquilo que quer ou não pagar”, ressalta.
Para evitar surpresas desagradáveis, a coordenadora da Proteste orienta os viajantes que vão para o exterior para priorizar os cartões pré-pagos e o dinheiro como forma de pagamento. Além disso, ela recomenda que se prefira pagar no Brasil tudo o que for possível, antes da viagem (como hospedagem, passagens e passeios), quando os hotéis ou agências fizerem a cobrança em reais.
Justificativas
O Santander, que, na pesquisa da Proteste, apresentou a maior diferença de taxa, disse, por nota, que utiliza sempre o valor do dia anterior ao fechamento da fatura do dólar ptax de venda (é uma média calculada pelo Banco Central). A esse valor, acrescenta a taxa aplicável pela instituição às operações de câmbio no dia do pagamento. Na nota, o banco diz que “avalia constantemente as condições de mercado para oferecer aos clientes a melhor relação custo/benefício de seus produtos e serviços.”
Os demais bancos também foram procurados pela reportagem do POPULAR, mas não responderam à solicitação para comentar a questão.
Fonte: Jornal O Popular