Juros de dez anos brasileiros superam os da Rússia, país com alto risco de calote. Para analista, credores do Brasil não querem ‘pôr fogo no inferno porque estão nele’
São Paulo - O Brasil ainda não perdeu o chamado grau de investimento, espécie de selo de bom pagador da dívida das agências de risco, mas os juros da dívida brasileira negociados no exterior já são compatíveis com o de países como a Rússia, considerada uma opção especulativa de aplicação por ter um alto risco de inadimplência.
Para um prazo de dez anos, os juros brasileiros negociados na última segunda estavam em 4,889% ao ano acima dos 4,877% da Rússia, país com avaliação ‘Ba1’ da Moody’s, a primeira nota especulativa da agência.
Hoje, o Brasil tem avaliação ‘Baa2’, a segunda nota do grau de investimento da Moody’s.
As taxas subiram nos últimos dias, mas estão abaixo dos 5,107% de 17 de março, logo após a série de protestos contra o governo Dilma.
A agência está concluindo a revisão da avaliação do País, cujo rating tem perspectiva negativa, sugerindo que deverá ser rebaixado para ‘Baa3’ nota da Turquia, que paga juros de 4,682% para a dívida de dez anos.
Mesmo se for rebaixado pela Moody’s, o Brasil seguirá com grau de investimento, no entanto, no primeiro degrau. Será a mesma posição que tem nas agências Standard & Poor’s e Fitch.
Dúvida
O rebaixamento brasileiro pela Moody’s é dado como certo pelos investidores. A dúvida é se a agência vai manter a perspectiva negativa. Se isso ocorrer, será sinal da um possível novo rebaixamento e, dessa vez, perdendo o grau de investimento.
Nos negócios com CDS (‘credit default swap’, em inglês), um ‘seguro’ para cobrir eventuais calotes, a situação do Brasil é um pouco melhor. O CDS de cinco anos está em 275 pontos, abaixo dos 314 da Rússia, mas acima de Turquia (217) e Índia (175).
O investidor que compra proteção para um título do Brasil de US$ 10 milhões paga US$ 275 mil por ano ao vendedor do CDS. Em julho de 2014, pagava US$ 140 mil.
Fogo no inferno
Para Jason Vieira, economista da Infinity Asset, os juros brasileiros estão até bem-comportados diante da instabilidade política e das perspectivas de crescimento.
Um dos fatores é que muitos investidores têm títulos brasileiros, diferentemente do que ocorre com a Grécia e a Venezuela. ‘Não se deve colocar fogo no inferno quando se está dentro dele.’
Segundo Zeina Latif, economista da XP Investimentos, a sustentabilidade da dívida pública em longo prazo continua ditando as incertezas. “Antes de se discutir a crise de confiança e a crise política, já se falava da piora do ambiente econômico devido à orientação equivocada da política econômica com estímulos excessivos.”
Fonte: Jornal O Popular