Com a venda do controle para o China Construction Bank (CCB), o BicBanco está sendo preparado para "novos vetores de atuação comercial", que incluem ampliação da clientela de maior porte, suporte aos investimentos chineses no Brasil, apoio ao fluxo comercial Brasil-China e, futuramente, financiamento à infraestrutura.
Tal alinhamento faz parte de uma série de iniciativas previstas na transição de controle, de acordo com o diretor de relações com investidores do banco, Milto Bardini, em apresentação feita a investidores. O processo incluirá a mudança da razão social para China Construction Bank Brasil.
Bardini explicou que parte dos novos vetores já vêm sendo desenvolvidos pela instituição. O tamanho dos clientes financiados vem aumentando.
No primeiro trimestre de 2014, clientes com faturamento acima de R$ 500 milhões representavam 41,8% da base total e ao fim do terceiro trimestre, esse percentual chegou a 46,2%.
Também já está em expansão o segmento de "trade finance", um dos focos do novo controlador. Com uma carteira de US$ 1 bilhão, esses negócios representavam 22% do portfólio do banco no terceiro trimestre, enquanto no primeiro trimestre do ano a fatia era de 19%.
Questionado se o banco vai ingressar mais fortemente no mercado de varejo, uma vez que essa é uma das linhas de atuação do CCB fora do Brasil, Bardini disse que esses detalhes estão presentes no plano de negócios que o novo controlador apresentou aos reguladores - mas que caberá ao CCB divulgá-los no futuro e mostrar se esse será o objetivo. "Sem dúvida, esse banco não veio ao Brasil para preencher função de mero figurante", disse.
Outro ponto importante no processo de transição de controle é o redesenho do funding. Bardini destacou que o controlador também deverá prover o capital necessário para a instituição financeira, sem, no entanto, dar detalhes sobre isso. "O grupo controlador proverá o capital necessário e o funding necessário para o crescimento da instituição no Brasil", disse.
No que se refere ao funding, Bardini explicou que o banco deve ampliar os instrumentos de captação para além do CDB, considerando que agora trabalhará com clientes, volumes e prazos maiores. A emissão de letras financeiras poderá ser um caminho, segundo ele.
O executivo destacou que, sob o processo de transição do controle, os custos das captações domésticas já caíram. Considerando os depósitos a prazo, Bardini diz que o banco costumava ter uma média de custo em torno de 106% do CDI e hoje esse percentual ultrapassa muito pouco os 100%. "Nós não queremos desfazer relações com investidores que tivemos ao longo do tempo, mas nós não podemos deixar de fazer prevalecer progressivamente uma nova configuração de risco", afirmou.
A migração do controle do banco, no entanto, ainda passa por um período de negociação. Em outubro, o CCB informou que o preço pago estaria sujeito a uma redução de R$ 287,8 milhões, ou R$ 1,58 por ação ordinária ou preferencial. Em novembro, os vendedores contestaram a decisão e iniciaram uma negociação com os chineses.
Por conta da discussão em andamento, não se sabe quando será realizada a oferta pública para fechamento de capital do banco (OPA) e muito menos quanto se pagará pelas ações dos minoritários. "Nada vai acontecer enquanto o ajuste de preço entre comprador e vendedor não for feito", reiterou Bardini.
Questionado por um investidor sobre a possibilidade de o banco voltar a abrir capital no futuro, Bardini disse que, como diretor de relações com investidores, gostaria que isso ocorresse, mas lembrou que nenhuma subsidiária do CCB tem capital aberto. "Não sei se é política irreversível. As condições do mercado podem fazer com que isso ocorra", disse. Mas o executivo afirmou que não tem condições de responder quais seriam os planos do controlador nesse aspecto. "O que eu vejo é o que você está vendo. Um pedido para fechar o capital."
Fonte: Valor Econômico