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BES deixa a lição de que banco familiar pode ser um problema

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15/07/2014 - 09:59

Maior banco de Portugal não teve dificuldades sérias no colapso de 2008, mas fracassou agora porque interesses da família Espírito Santo voltaram para assombrá-lo

A saga do Banco Espírito Santo (BES) de Portugal chama atenção para vários fatos: que os bancos da periferia da zona do euro ainda estão frágeis; que o sentimento dos investidores em relação a eles ainda pode ser volátil; e que a ajuda com dinheiro dos contribuintes a bancos com problemas não é mais palatável para os governos.

Mas as origens do idiossincrático caso do BES também oferecem uma lição mais importante: bancos de controle familiar podem ser problemáticos; mas bancos grandes e sistemicamente importantes que têm controle familiar podem ser muito problemáticos.

Ao contrário de muitos concorrentes, o maior banco de Portugal não entrou em dificuldades sérias no colapso global de 2008 - nem mesmo dois anos depois, quando a zona do euro tornou-se o ponto crítico da crise. O banco fracassou agora porque interesses complexos da grande família Espírito Santo voltaram para assombrá-lo.

A história ainda está se desdobrando, mas em caso extremo poderá se mostrar o final lamentável de uma dinastia orgulhosa. As fundações do banco datam da metade do século 19. Embora tenha sido nacionalizado na metade da década de 1970, em meio ao golpe de Estado de esquerda, a família retornou do exílio no Brasil na década de 1980, readquirindo e gradualmente reconstruindo o BES. Até o último fim de semana, um descendente, Ricardo Espírito Santo Silva Salgado, era o diretor-presidente do banco.

Mas o surgimento de irregularidades contábeis na companhia holding dos Espírito Santo em Luxemburgo levou o banco central português a intervir. Ele tirou Salgado do comando e impediu a família de se envolver mais na administração.

Na segunda-feira, após uma chamada de margem sobre um empréstimo, a família vendeu um quinto de sua participação de 25%. A estrutura de controle do BES não é única, é claro. Em alguns mercados emergentes, em partes da América Latina e da Ásia, os grandes bancos de controle familiar são a norma.

Em muitos mercados ocidentais, porém, a maioria dos bancos familiares opera hoje em nichos, concentrando-se geralmente em atividades que não exigem grandes balanços ou um grande apetite pelo risco. A dinastia Rothschild, cujos interesses bancários estão concentrados na atividade de consultoria, é o exemplo mais notável.

O vizinho mais próximo do BES, o grupo Santander da Espanha, é um caso raro de dinastia bancária globalmente relevante. Ele é presidido há 105 anos por um Botín - por Emilio I a partir de 1909, por Emilio II a partir de 1950 e, desde 1986 pelo atual presidente, Emilio III. A filha de Botín, Ana Patricia, que comanda os negócios do grupo no Reino Unido, em algum momento deverá ser tornar a quarta geração no comando. Assim como no BES - pelo menos até 14 de julho -, a família comanda vários assentos no conselho de administração, apesar de ter apenas uma participação de 2% no capital.

Mas o Santander é um animal diferente de seu vizinho. Apesar das pressões da economia espanhola sobre o grupo nos últimos anos, e do desempenho enfraquecido em outros mercados importantes como o Brasil e o Reino Unido, o grupo está relativamente bem de saúde.

Ele vem se destacando onde o BES não está conseguindo - graças ao foco na atividade bancária e à experiência de sua administração. O Santander também gosta de enfatizar o benefício abrangente do modelo dinástico - ao ser passado de geração para geração, o banco se beneficia de uma visão estratégica de longo prazo.

Mesmo assim, o principal banco da Espanha vem enfrentando críticas persistentes ao seu hábito teimoso de distribuir dividendos generosos, mesmo em anos deficitários, e também à sua carência de capital. Segundo os críticos, os interesses dos membros da família estão distorcendo a estratégia de balanço do banco - porque eles dependem dos dividendos como uma parte importante de suas rendas, e não querem ver suas posições diluídas em um aumento de capital.

E o potencial de conflitos de interesses visíveis pode ser mais sério ainda. No caso do BES, as supostas irregularidades contábeis na companhia holding da família seguem-se a pressões financeiras sobre algumas partes da dinastia.

Se há um modelo para gerenciar tais tensões, provavelmente é o do SEB da Suécia. A família Wallenberg tem uma participação de 20% no banco. Mas ela é mantida por meio de sua gestora de ativos, a Investor. O patriarca da família, Marcus Wallenberg, é presidente do conselho de administração do SEB, mas há um executivo-chefe profissional em um conselho independente mais amplo. Outro ponto positivo é que quando a Suécia passou por sua própria crise no começo da década de 1990, o SEB foi socorrido pelos Wallenberg, e não pelo Estado.

O desempenho dos bancos é conduzido por muitos fatores. Mas vale ressaltar que as ações do SEB dobraram de valor nos últimos dois anos, superando o desempenho de concorrentes, especialmente aqueles com uma influência familiar menos evidente: a ação do Santander subiu 43%; a do BES caiu 10% e continua caindo.

Fonte: Valor Econômico

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