Os passos ainda são tímidos. De certa forma, demonstram que o investidor individual pode estar começando a retomar a confiança no mercado de ações. Em novembro, as pessoas físicas movimentaram 17% do volume negociado na BM&FBovespa. O percentual foi de 16,6% em outubro. Na primeira semana de dezembro, havia aumentado um pouco. Era 18,1% no acumulado do ano até 6 de dezembro. A participação ainda é acanhada, quando se observa o fato de a pessoa física já ter respondido por mais de 33% do volume negociado em 2009. Mas demonstra um maior ânimo daquele que havia em junho, quando apenas 16,6% do volume havia sido negociado por investidores individuais. Em parte, o aumento se deve ao fato de mais pessoas terem aderido ao mercado de ações. Em novembro, havia 594.117 de investidores individuais, 3,88% a mais que em outubro.
O maior interesse da pessoa física pôde ser visto no crescimento do número de investidores e também no volume negociado pela área de home broker do Banco do Brasil. O total de recursos cresceu 11% entre janeiro e novembro deste ano ante igual período do ano passado. Segundo Leonardo Loyola, gerente executivo da diretoria de Mercado de Capitais e Investimentos do Banco do Brasil, o volume chegou a R$ 18,1 bilhões nesse período. E o número de investidores individuais cresceu 6,5%, chegando a 180 mil CPFs.
Para Loyola, o crescimento é um indicativo importante do interesse da pessoa física pelo mercado de renda variável. Outro indicativo foi a demanda 12 vezes superior à oferta do novo fundo imobiliário em agências do Banco do Brasil. "São fatos que dão a dimensão do potencial que o mercado tem nesse contexto em que os juros estão em um patamar mais baixo", diz.
A migração efetiva das aplicações mais conservadoras para as opções na renda variável é, entretanto, lenta e gradual. Esse comportamento acontece, inclusive, no private banking, segmento bancário que abriga os clientes que têm maior renda e, teoricamente, mais condições materiais de realizar apostas arriscadas com o seu dinheiro. "O que temos visto até agora é um aumento nas consultas sobre as opções dentro da renda variável", afirma Yves Cardoso Fidalgo Junior, gerente executivo da unidade Private Bank do Banco do Brasil.
Uma das medidas tomadas pela equipe do private bank foi repensar as quatro carteiras de ações recomendadas sob o viés da preservação do capital. "Temos reduzido o "beta" das carteiras e trabalhado com o indicador abaixo de 1", afirma Fidalgo Junior. O indicador representa a correlação entre um ativo ou um portfólio e a média do mercado. Quanto menor o indicador, menor a probabilidade de o investidor sofrer com uma queda nos preços. Além disso, o banco passou a explicitar aos clientes private a quais tipos de risco cada uma das carteiras recomendadas está exposta. "Montamos um modelo que dá a exposição estrutural das carteiras", afirma o gerente executivo do private bank.
Na carteira recomendada com foco em dividendos, por exemplo, 60% das ações estão na área de infraestrutura; 60%, protegidas da inflação; 10% são sensíveis à variação das commodities e 85% acompanham a evolução do mercado doméstico. Um dos papéis é a concessionária de rodovias CCR. A empresa atua na área de infraestrutura, sente a evolução da economia brasileira com o aumento do tráfego de cargas e de carros de passeio e também é sensível à inflação, visto que pode reajustar as tarifas de pedágio, como determina seu contrato de concessão. "Nossos clientes gostam dessa análise porque passam a entender onde estão pisando", afirma. Fidalgo Junior argumenta que a rentabilidade das carteiras contribui para atrair o investidor, especialmente aquele menos avesso ao risco da renda variável. Nos últimos 12 meses, a carteira de dividendos, por exemplo, rendeu 37,5%. A de small caps, 40,4%.
No home broker, Loyola afirma que também há esforço para tornar a renda variável mais "amigável". A partir de janeiro, por exemplo, o sistema de negociação passará a ter um módulo para calcular o Imposto de Renda (IR) da carteira de ações do investidor. "O módulo vai calcular o imposto devido e elaborar o Darf. O cliente terá apenas que imprimi-lo", afirma Loyola. "Essa mudança vai facilitar a vida de quem tem pouca experiência em fazer as contas sobre o IR devido."
Fonte: Valor Econômico