Enquanto ainda lida com a condenação de sua principal acionista no julgamento do mensalão, o Banco Rural se prepara para receber um novo aporte de capital, que deve somar pelo menos R$ 400 milhões. Depois de uma sequência de injeções de capital, desta vez, a forma encontrada para levantar os recursos foi uma emissão de debêntures fechada no início do ano pela Trapézio, holding controladora da instituição.
A dona do Rural usará o restante da captação, de R$ 560 milhões, para liquidar dívidas de curto prazo também tomadas para capitalizar o banco. A holding vem realizando sucessivos aportes após o Banco Central determinar uma série de ajustes no balanço da instituição. Procurada, a Trapézio confirma a emissão. "O principal objetivo da operação é fortalecer a estrutura de capital do Banco Rural, com vistas ao crescimento da instituição", informa, em nota.
A captação foi intermediada pela NSG Positiva, que não atua tradicionalmente nesse mercado, dominado pelos grandes bancos de investimento. A distribuidora de valores não é relacionada no ranking de instituições financeiras divulgado pela Anbima, associação que reúne instituições que atuam no mercado de capitais. Mas recentemente fechou outra grande operação, de R$ 600 milhões, para a Brasil Foodservice Group, dona da rede de restaurantes Porcão. Nenhum representante da NSG foi localizado para comentar.
Os investidores que adquiriram as debêntures emitidas pela Trapézio para capitalizar o Rural não são conhecidos, mas a operação possui características típicas daquelas destinadas a aplicadores de longo prazo, como fundos de pensão. Os papéis possuem prazo de 10 anos, com carência de quatro anos para o início do pagamento do principal. A taxa de juros, equivalente à inflação medida pelo IPCA mais 8,5% ao ano, só começará a ser paga a partir de junho de 2016.
A fonte de recursos para o pagamento das debêntures será o fluxo de dividendos do Rural aos quais a Trapézio tem direito. Em garantia aos credores dos papéis foi feito o penhor de ações do banco que pertencem à holding. A emissão recebeu classificação de risco preliminar 'BBB+' da LF Rating, suficiente para as debêntures se enquadrarem na política de investimentos das fundações, que costumam exigir rating mínimo 'BBB'.
O Rural fechou o terceiro trimestre de 2012 com ativos totais de R$ 4,8 bilhões e patrimônio líquido de R$ 394 milhões. De janeiro a setembro, a instituição registrou prejuízo de R$ 47,4 milhões. Em 2012, o banco deixou de ser auditado pela Ernst & Young e passou a ter como auditores a Fernando Motta & Associados, firma mineira de menor porte.
No ano passado, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) chegou a fazer uma auditoria no banco com o objetivo de encontrar um novo controlador para o Rural, que pudesse trazer mais recursos para a instituição. A operação, porém, esbarrou na condenação de Kátia Rabello, controladora do Rural, no processo do Mensalão. O processo de venda do banco foi paralisado.
Em outro processo, o Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, conhecido como Conselhinho, condenou Katia e Plauto Gouvêa, vice-presidente da Trapézio, à pena de inabilitação de atuação em instituições financeiras. Em setembro, ambos deixaram o comando da companhia.
Fonte: Valor Econômico