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Analistas questionam capacidade de implementação do ajuste fiscal

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21/09/2015 - 09:10

O pacote de cortes de gastos e aumento de impostos anunciado nesta semana pelo governo mostrou a preocupação de reverter o quadro de déficit primário e pode até ter garantido um tempo com as agências de classificação de risco, dizem analistas ouvidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. Mesmo assim, existe uma preocupação muito grande com a capacidade de execução dessas ações, em razão do clima político difícil no Congresso, fora o fato de a grande maioria das medidas não ter caráter estrutural.

O Bradesco, dono da gestora BRAM, onde o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, trabalhava antes de ir para o governo, disse em relatório que as medidas refletem uma mudança de atitude do governo na direção de equacionar a piora das contas públicas. "Apesar de reconhecermos as dificuldades em aprová-las, o ajuste deverá permitir que o governo alcance um superávit em 2016. Por mais que continue altamente desafiador atingir a meta de 0,7% do PIB no ano que vem, o cenário de déficit primário pode ser descartado", escreveram os economistas do banco. O Itaú Unibanco, por sua vez, afirmou que as ações são positivas, mas a implementação é difícil. "As medidas somam R$ 72 bilhões, mas somente R$ 14 bilhões não dependem da aprovação do Congresso", indicou a instituição.

Alberto Ramos, diretor de pesquisas para a América Latina do banco Goldman Sachs, explicou que há uma tendência de crescimento dos gastos obrigatórios do governo, que aumentam de 0,2% a 0,3% do PIB ao ano. "A desvinculação do gasto obrigatório é essencial para elevar os investimentos do governo, o que é muito importante para estimular o crescimento", acrescentou. Carlos Kawall, economista-chefe do banco Safra, explicou que para estabilizar a dívida pública em relação ao PIB é preciso um primário de 2,5% do PIB e isso só será obtido se o governo adotar medidas estruturais, como a reforma da Previdência.


O economista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José Luís Oreiro, lembrou que a arrecadação do governo depende do desempenho econômico e, assim, pode haver novas frustrações nas receitas se não houver uma recuperação na atividade. "O Brasil poderá ganhar tempo até o final do ano, caso seja aprovado pelo Congresso esse conjunto de ações. Nesse contexto, o governo pode evitar a perda de grau de investimento perante a Moody's neste ano", afirmou Italo Lombardi, economista-sênior para a América Latina do banco Standard Chartered, logo após o anúncio das medidas. Para ele, a perda do grau de investimento pela Standard & Poor's gerou um "choque de realismo" no governo sobre a necessidade do ajuste fiscal.

O empresário Jorge Gerdau afirmou que a demora do governo em anunciar o pacote de medidas de austeridade é um sintoma da gravidade da crise política brasileira. "Não é possível que tenha sido preciso uma agência de rating rebaixar o Brasil para o governo começar a trabalhar de forma mais rápida. Não tem cabimento que o ministro Joaquim Levy, em um momento de crise como esse, não consiga avançar por conta de conflitos políticos", criticou.

Na avaliação de Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson, diante das atuais condições das finanças do País os cortes de despesas eram inevitáveis, mas são apenas um "tapa-buraco" para 2016. "As reduções de gastos deveriam também envolver medidas para diminuir o déficit da Previdência Social, onde está o principal problema fiscal do Brasil", afirmou.

O ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria Tendências, Gustavo Loyola, também considerou que as medidas não são as ideais, mas que até a volta da CPMF é compreensível no atual contexto. "Se ocorrerem sinais de apoio do Congresso às medidas anunciadas, especialmente a elevação de impostos, isso reduzirá a aversão a risco de investidores em relação ao País", comentou ontem, após o anúncio do governo.

Já Fábio Klein, especialista em contas públicas da Tendências Consultoria Integrada, chamou atenção para os cortes de benefícios para o funcionalismo público, que devem enfrentar resistência dos servidores.

Vilma Pinto, pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontou que a eliminação do abono de permanência (incentivo para que servidores em idade para se aposentar continuem trabalhando) e a suspensão de concursos públicos para o ano que vem podem na verdade aumentar os gastos do governo, em vez de reduzi-los.

 

 

Fonte: Correio Braziliense

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