A elevação do juro básico da economia (taxa Selic), em 0,5 ponto percentual, para 9,5% ao ano, não foi surpresa, afirmou Luciano Coutinho, presidente do BNDES ( Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
"Faz parte da política do Banco Central, que tem sido muito competente em conduzir o controle da inflação, e acho que não foi surpresa", disse Coutinho a jornalistas hoje, após participar de um seminário no Banco Mundial, em Washington.
Segundo ele, a decisão não deve afetar o investimento. "Ao contrário. Quando se cria confiança na estabilidade, a confiança privada se fortalece e o investimento depende da confiança no futuro."
Coutinho não quis exprimir sua opinião sobre a eficácia da medida para o controle da inflação. Também não avaliou se será suficiente por ora. "Essa pergunta tem de ser dirigida não a mim, mas ao presidente do Banco Central [Alexandre Tombini]."
O presidente do BNDES disse ainda estar otimista com a perspectiva econômica, em meio às esperadas mudanças na política monetária americana, que trarão efeitos para o cenário brasileiro.
"O Brasil tem um setor de indústria e de serviços muito diversificado e uma taxa de câmbio mais favorável às exportações vai ajudar a recuperar aquilo que a gente, nos últimos anos, perdeu, que é mais capacidade exportadora. Então, é preciso olhar o conjunto, acho que existem vários aspectos. Também acho que uma taxa de câmbio um pouco mais favorável ajuda a reduzir gradativamente o deficit em conta-corrente."
PERSPECTIVAS
Na avaliação de economistas ouvidos pela Folha, o comunicado do BC que acompanhou a divulgação da nova Selic ontem reforçou no mercado a aposta em juro básico de dois dígitos em breve --na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) ou na seguinte.
"Reconhecemos que aumenta a probabilidade do ciclo se prolongar para além de 10%, ao passo atual de 0,50 ponto percentual. Esperaremos a ata desta reunião, na próxima quinta-feira, para entender melhor os próximos passos que deverão ser dados pelo Banco Central", disse Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú.
"O fato de o comunicado do BC ter permanecido inalterado [em relação ao anterior] deve ser visto como uma forte indicação de que o Copom vai considerar seriamente aumentar, novamente, em 0,50 ponto percentual a Selic, levando-a a dois dígitos", afirmou Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs.
Fonte: Folha